quinta-feira, 17 de março de 2011

Geórgicas - Virgílio (Trad: Feliciano de Castilho)


Acho muito difícil alguem não conhecer (ou ao menos nunca ter ouvido falar em) Virgílio. Poeta latino, Publius Virgilius Maro é considerado (ao lado de Horácio e Ovídio) o maior dos escritores latinos, e sua poesia é modelar. Camões se baseou em Virgílio ao compor seu Os Lusíadas, e Dante faz uma grande homenagem ao poeta em sua Divina Comédia. Escolhi Virgílio para o Desafio Literário de Março justamente por ser esse escritor um modelo, e escolhi Geórgicas e não Eneida (que está como bônus do mês) pois costumo resenhar alguns "clássicos" pelo seu livro menos conhecido. Assim foi com Camus (primeira resenha: A Queda), Lindanor Celina (A Viajante e Seus Espantos), Thomas Mann (Tônio Kroeger), Machado de Assis (Memorial de Aires) e assim por diante.

Agora, uma coisa é importante dizer: Geórgicas NÃO É UM LIVRO ÉPICO, mas isso não tinha como eu saber antes da leitura do livro. Embora o livro seja construido em uma estrutura de poema épico (grandes poemas divididos em cantos), possua uma Invocação, Dedicatória e Epílogo, e há nessa obra a questão da busca pela identidade, assim como a descrição da natureza e dos mitos locais; falta em Geórgicas um elemento fundamental da épica: um Heroi (apesar de no 4º canto haver uma narrativa proto-épica contando a história de Orfeu).

Então vamos à obra! Geórgicas é um livro didático (para a época romana), onde fala dos campos, da natureza, dos métodos de colheita, da história da agricultura e das superstições religiosas envolvendo a zona rural. Algumas passagens são curiosas como:
Dias bons, e outros maus, traz o variar da lua.
Evita sempre o quinto a qualquer obra tua:
nasceram nele o Orco, e as Fúrias; nele a Terra
deu à luz contra os céus, prenhe de infanda guerra, [...]

O décimo, e após ele o sétimo, é de estreias:
bacela; amansa bois; enliça o ordume às teias.
Dentre os quatro livros (ou cantos) o mais interessante com decerto é o 4º, onde Virgílio fala de abelhas. A temática pode parecer banal, mas a poeticidade é singular. No 4º livro também há uma espécie de narrativa sobre Orfeu.

A edição que possuo é bem antiga (o liv ro mais antigo que possuo). Trata-se da Edição Clássicos (Vol. III) da W.M.Jackson Editores, e data de 1949. A tradução é de António Feliciano de Castilho, e ao que me consta está em Domínio Público (Castilho morreu no século XIX). Apesar dos textos gregos e latinos clássicos não possuirem rimas, as traduções normalmente são rimadas, e a tradução de Castilho é composta toda em rimas emparelhadas (AA,BB,CC,DD e etc...). Castilho também optou pelo Alexandrino (verso de 12 sílabas), levando-se em consideração que a métrica latina é diferente da métrica portuguesa.

Geórgicas é um bom livro, mas não mostra todo o potencial de Virgílio, nem justifica sua influência em toda a cultura ocidental. Isso provavelmente só vai ser justificado com a leitura de Eneida.

Essa resenha faz parte do Desafio Literário. Para conferir a minha lista do desafio clique aqui. Para conferir a lista de Março Clique aqui.

Nota do Elaphar: 8,3

Edição Lida:
VIRGÍLIO. Geórgicas & Eneida. Trad: António Feliciano de Castilho & Odorico Mendes. São Paulo: W.M.Jackson, 1949, 391p

5 comentários:

  1. Eu nunca havia ouvido falar desse autor e tão pouco nesse livro :$.
    Eu gostei, e fiquei com um pouquinho de inveja ( inveja boa tá! rsrs), porque essa me apareceu ser uma leitura difícil, porque como você disse seu exemplar não tão atual, então acho que a pessoa tem que ter muito cacife para conseguir lê-lo, o que tenho certeza que é seu caso.
    Parabéns, ótima resenha ;)
    Beijos

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  2. Lully - Acho muito incomum alguem nunca ouvir falar de Virgílio (embora muitos não conhecem as Geórgicas), pois como falei, é um modelo de épico, e serviu de inspiração para Dante (A Divina Comédia) e Camões (Os Lusíadas).
    De fato, Virgílio é uma leitura bem difícil, primeiro por ser um texto do período áureo do Império Romano, segundo por ser uma tradução portuguesa de mil oitocentos e alguma coisa, e terceiro pela edição antiga. Apesar da dificuldade, é uma lírica bastante divertida (em algumas partes).

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  3. Eu so' conhecia a obra Eneida de Virgilio e pelo trechinho do livro que postou, acho que deve ter sido muito agradavel ler com rimas emparelhadas. Sua resenha e' muito boa. Parabens.

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  4. A cada vinda, uma senhora aula! Eu, particularmente, amo quando o livro transpõe as questões de gênero. Entre o gênero e a literatura há muito mais do que supõe a nossa limitada filosofia. Talvez em Geórgicas, Virgilio tenha cruzado a fronteira que o separa das prisões do gênero. Bem, eu não entendo de teorias literárias, é apenas a opinião de uma neófita.
    Como sempre é muito bom vir aqui.

    Beijocas

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  5. O máximo de Virgílio é precisamente as "Geórgicas" e não a "Eneida". Isto porque, na "Eneida", o enredo é mais que conhecido, desembocando no fim trágico de Turno e na inexorabilidade da missão fundadora de Eneias; enquanto que, nas "Geórgicas", a trama não é tão óbvia como parece, sendo improvisada, sobretudo quando chega ao mito de Orfeu, no Livro IV. Logo, sem dúvida que as "Geórgicas" é a maior obra-prima de Virgílio, finalizada na sua totalidade e não parcialmente terminada como a "Eneida".

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