A primeira impressão que tive ao ler esse livro foi: Tem alguma coisa errada com essa tradução! Como estava sem computador, continuei a leitura normalmente, mas hoje li parcialmente (mais da metade do livro) a versão britânica (da Element, daí o título nas duas línguas), e aí cheguei a uma nova conclusão: não havia nada de errado com a tradução! o livro é isso mesmo. Não consigo entender o porquê do sucesso do livro. Não há nada de mais nele.
A história é uma grande fábula, que conta a história de Fernão Capelo (ou Jonathan Livingston), que é uma gaivota ansiosa por "aprender" a voar, e é banida por suas atitudes. Minha primeira crítica contra essa obra é quanto a linguagem utilizada. Muito do que está escrito no livro é completamente inútil para a própria compreensão da obra, isto é, há muitas passagens que não são essenciais. Ainda tratando da linguagem, muitas imagens evocadas por Bach são ridículas, distoantes do contexto original, e muitas vezes ele cria aforismos de péssima qualidade.
A mile from shore a fishing boat chummed the water, and the word for Breakfast Flock flashed through the air, till a crowd of a thousand seagulls came to dodge and fight for bits of food. It was another busy day beginning.A história não é original, mas não é de todo ruim. É uma fábula (com acréscimos desnecessários, mais ainda assim fábula) como outra qualquer, incluindo a questão moralizante. Não sou fã de literatura com finalidade moralizante, mas também não tenho nada contra elas.
Muitos consideram Fernão Capelo Gaivota (Jonathan Livingston Seagull) como obra filosófica e seu escritor como um grande filósofo, mas isso está muito longe de se aproximar da verdade. De fato, há filosofia presente em FCG (JLS), mas não a filosofia de Bach, mas sim um tipo de neoplatonismo "popular", no que se refere à ilusão do mundo sensível e às ideias geradoras. Provavelmente (esse é uma opinião minha), Richard Bach conheceu platão a partir da filosofia escolástica agostiniana, pois suas ideias estão repletas de Agostinho de Hipona, mas de uma forma ou de outra, Bach não dialoga com a filosofia, mas sim acrescenta-a ao seu livro de forma bastante vulgar (como é usada por Bach [ordinary], no sentido de comum). Jamais posso considerar Bach como filósofo, pois a filosofia presente no livro é reproduzida e não desenvolvida.
Ainda detonando o livro, além da linguagem, da acriatividade e da "filosofia" do livro, a história não me cativou nem um pouco. O espaço da narrativa é pobre até mesmo para a proposta do livro (de simplicidade e pouca descritividade), a narração é fraca e malfeita (em decorrencia da linguagem) e os personagens são péssimos estereótipos, retirados da bíblia cristã. Bach propõe um Fernão "quase-profeta", mas diferente dos livros sagrados, carece de uma boa psicologia em sua criação. Comparando a psicologia de Jonas, Daniel ou Paulo com Fernão vemos o quanto Bach foi infeliz em sua criação (isso considerando os Jonas, Daniel e Paulo como PERSONAGENS e seus textos como CRIAÇÃO LITERÁRIA). Creio que a pouca descritividade dos ambientes também decorra de influência do Tanakh, mas novamente foi infeliz. O que é descrito por Bach geralmente é desnecessário. E por fim, a tradução brasileira em alguns momentos gera passagens que parecem de um português alienígena.
Agor a, vou falar um pouco das coisas boas do livro. A linguagem (mesmo ruim) é simples, e permite uma leitura rápida e sem ter de repetir pontos do livro (como em uma leitura mais elaborada, como Ulysses). O livro é curtíssimo, pequeno, com margens e fonte grande e com páginas e páginas de fotos, o que permite que eu afirme que não perdi nem uma hora do meu tempo lendo esse livro. As fotos (para quem é fã da arte da fotografia) de Russell Munson são muito boas, e a tradução é competente (apesar de umas passagens ou outras serem esquisitas). É um livro que não possui nada de mais, e, entre esse e Ilusões (do mesmo autor), fico com o segundo. Em breve resenho Ilusões.
Essa resenha faz parte do Desafio Literário. Para conferir a minha lista do desafio clique aqui. Para conferir a lista de Março Clique aqui.
Nota do Elaphar: 7,3
Edições Lidas:
BACH, Richard. Fernão Capelo Gaivota. Fotografias de Russell Munson. Trad: Antônio Ramos Rosa e Madalena Rosález. Rio de Janeiro: Nórdica, [s/d], 152p.
BACH, Richard. Jonathan Livingston Seagull. Photography by Russell Munson. Hammersmith[London]: Element Press, 2003.
Hum...Também não gosto muito de fábulas. Mas uma leitura é sempre uma leitura, acréscimo de vocabulário, Boa resenha!
ResponderExcluirbeijos
Gente, na minha infância e adolescência só ouvia falar desse livro. Todos as vozes os louvavam, mas não o li. Sua crítica está bem fundamentada.
ResponderExcluirBeijocas
Uma coisa que nunca entendi é porque traduziram o título para Fernão Capelo... o que tem a ver Fernão com Jonathan e Capelo com Livingstone?
ResponderExcluirOu será que quem deu o título em português apenas chutou um nome qualquer?
Na verdade fico em dúvida até mesmo a respeito do nome original, porque Bach o teria escolhido?
tambem gostava de saber o porque da trad em port de fernao capelo .... jonathan livingston nao tem nada a ver nao é?
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