No início do mês falei que março seria um mês Alemão, e agora vos apresento Dürrenmatt (que não é alemão e sim suíço, mas de língua alemã). Para quem não conhece, Friedrich Dürrenmatt é um escritor (principalmente de teatro) contemporâneo bastante famoso nos países germanófonos, mas aqui no Brasil bem pouco lido. Ao que me consta, em língua portugesa temos apenas O Juiz e Seu Carrasco e 3 contos (A Pane, O Túnel e O Cão) reunidos em um lívro e em duas antologias, além de um texto teórico sobre o teatro (Problemas do Teatro) que não nos interessa no presente momento.
O Juiz e seu Carrasco é uma novela policial, uma das especialidades do autor, que conta a história de um polícial que foi assassinado sob circunstâncias misteriosas. O comissário Bärlach decide investigar essa morte, e devido à pressões internas, acaba tendo de aceitar por companheiro Tschanz, policial criminalisticamente exemplar. Somam-se aos personagens a família de Schmied, o policial Clenin (que descobre o corpo de Schmied) e outras figuras. Além disso, cada personagem possui uma história obscura, principalmente Bärlach, que possui uma competição antiga, que se resolve nesse livro.
O livro é profundo no psicológico das personagens e complexo em suas ligações. Há no livro a presença de vários conflitos, entre eles a luta contra a morte (Bärlach está muito doente, quase morto), contra as intrigas policiais, contra o passado, contra a dicotomia justiça-crime.
Vou ser bastante franco, como é de meu feitiu. Minha primeira impressão do livro não foi boa, a história parecia banal, os personagens me pareceram (à primeira vista) artificiais e a linguagem sem nada de especial. Entretanto, uma coisa é fato, nunca um romance policial havia me surpreendido em seu desfecho (exceto os dois primeiros que li, a saber: As Aventuras de Sherlock Holms e Um Estudo em Vermelho de Doyle). Nem Simenon, nem Piglia, nem Doyle, nem Greene, nem Dan Brown nem nenhum outro escritor ou história policial me foram surpreendentes nesses 5 anos e meio de leitura. Dan Brown nos dá em seus livros (exceto Ponto de Impacto, que não posso julgar pois não li) o desfecho e o criminoso no meio do livro; em Fortaleza Digital sabemos desde o 10º capítulo quem manda o assassino e porque assim como é óbvio que a senha do vírus é 3 (a partir da dica absurda dada), e não consigo entender como os personagens são idiotas a ponto de não perceberem isso. Em O Terceiro Homem de Greene, podemos deduzir que lime está vivo desde a descoberta de um "terceiro homem". O mesmo acontece em Simenon, Doyle, Píglia e diversos autores nacionais.
Não me entendam mal, sou fã de romances policiais e criminais, eles só nunca conseguem me surpreender. O diferencial não está no desfecho surpreendente, mas na criatividade da história (e seus pormenores) e na linguagem. Em O Juiz e seu Carrasco os personagens e as intrigas são bem interessantes, mas o que me chocou foi o fato de não ter conseguido predizer os 2 ultimos capítulos do livro. Durante todo o desenrolar da história, fui chegando a conclusões cada vez mais concretas, e das duas possibilidades que cogitei uma vi concretizada no 19º capítulo... para no fim descobrir que estava errado. O ponto forte do escritor é não "inocentar" ou "descentralizar" o desfecho da narrativa, mas atravez da linguagem elaborada nos focalizar em partes específicas da narrativa, e assim as provas (que estão para um desfecho) são vistas sob outro ângulo.
Se o forte de uma narrativa policial deve ser a surpresa, essa é a melhor que já li até hoje. Mas (sempre tem um mas), ainda há uma coisa que falta nesse livro, pois não consegui gostar tanto dele ainda assim. A surpresa compensou minha leitura quase forçada, mas não a anulou. Se me perguntarem hoje para escolher entre O Juiz e seu Carrasco de Friedrich Dürrenmatt e O Terceiro Homem de Grahan Greene, optarei por ambos. O primeiro ganha pela surpresa, a profundidade psicológica e os conflitos, o segundo pela criatividade da história, por como ela é desenrolada e o carisma dos personagens. Ambas as histórias são sombrias e cômicas ao mesmo tempo.
Avaliação final: Não é perda de tempo ler esse livro, pois é uma esperiência nova, além de que o livro é barato (8 R$) e curto (112pgs em formaton de bolso). A edição da L&PM como sempre, a melhor da categoria.
Nota do Elaphar: 8,6
Edição Lida:
DÜRRENMATT, Friedrich. O Juiz e seu Carrasco. Trad: Kurt Jahn. Porto Alegre: L&PM, 2008, 112p. (L&PM Pocket Plus, 681)
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