quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Stephen King - Carrie, A Estranha

Stephen King é talvez o mais bem sucedido escritor vivo, possuindo uma grande recepção de leitores (leia-se "vendas") e uma boa crítica (entre leitores, jornais e até na academia). Ironicamente, nunca havia lido um único livro dele, e "Carrie, A Estranha" foi o primeiro (lido pouco depois do dia das bruxas), e agora vou comentar essa experiência. Para quem é alienado não conhece, Stephen King é o criador de livros e contos adaptados para o cinema como: A Espera de Um Milagre, Vôo Noturno, A Colheita Maldita, 1408, e Carrie, a Estranha, sendo que a "Colheita" e "Carrie" tiveram remakes. Além das obras adaptadas, Stephen  escreveu o famigerado "O Iluminado" e a saga de sete volumes "A Torre Negra". Você pode não ter lido nenhuma dessas obras (como eu), mas não conhecê-las (ao menos uma delas) é bem difícil.

Vou ser sincero com todos vocês, decidi ler Stephen King após sua declaração dizendo o seguinte:
<<The real difference is that Jo Rowling is a terrific writer and Stephenie Meyer can't write worth a darn. She's not very good>>
Não concordando nem discordando de Stephen, mas admito que gosto das brigas entre escritores, sendo que Nietzsche já atacou George Sand, Machado de Assis já atacou Eça de Queirós (e Vargas Llosa literalmente atacou Garcia Marquez (com um soco na cara mais precisamente)). Acho que isso é produtivo para a literatura. Ou não.

Agora, falando sobre o livro, a própria capa já chama atenção, sendo uma excelente capa. O título da obra (Carrie, a Estranha) é tradução do original que chama-se Carrie...   ...   ... O que me deixa a pergunta de: QUEM FOI O IMBECIL QUE COLOCOU O "A ESTRANHA" NO TÍTULO??? É verdade que é uma mania dos tradutores dar o seu "toque pessoal", mas não acho que o título deveria ser alterado dessa forma... Pelo menos é melhor do que o que fizeram com "Memórias Póstumas" em língua inglesa (Epitaph of a Small Winner) ou o que fizeram com "Nights in Rodanthe" em língua alemã (Das Lächeln der Sterne). Creio que esse "a Estranha" está aí por conta do filme (que foi publicado primeiro no Brasil), e é extremamente natural essas mudanças grotescas ou acréscimos de "subtítulos" nas traduções dos títulos. Claro, que após ler a ficha catalográfica e conferir a diferença do título, minha animação quanto ao livro ficou bem fraca, mas posso dizer que me surpreendi.

O primeiro ponto positivo no livro, é o seu nível de realidade. Quem já leu o livro pode ficar perguntando: Que diabos uma história sobre poderes telecinéticos pode ter de real??? A resposta é simples... uma menina criada sob preceitos religiosos extremos acaba dizendo para sua mãe: "Sua FODIDA"!!! Isso mesmo, uma menina de 17 anos usa linguagem de estivador... Não venham bancar os puritanos, todo mundo sabe que essas palavras são usadas pelas pessoas em idade escolar, e até mesmo a melhor garota da escola (Susan) usa palavras do tipo. E a moral é bem presente no livro, pois o pai de Cris ameaça entrar em um processo contra a professora pois ela usou a palavra "escroto", como se as meninas (e principalmente a filha dele) não conhecesse a palavra. E além disso ainda tem o Bullying contra a Carrie, que é recorrente durante toda a obra. Esse fidelidade no português indica (mas não afirma, pois não li o original, e nem pretendo ler) que é uma boa tradução, apesar do título; claro, que há a pequena gafe de traduzir o nome da música "Pomp And Circumstance" de Elgar (popularmente conhecida como: Música de Formatura), pois, os brasileiros que conhecem essa música pelo nome, em geral, conhecem em inglês mesmo, além do fato de que NOMES NÃO SE TRADUZEM.

Outro ponto que eu achei muito interessante e criativo, foi cruzar a narrativa com fragmentos de supostos livros e documentos sobre o caso "Carrie White", sendo que as informações divergem entre os documentos e a narrativa.

Agora, quanto a história...
Alerta!!! Esse texto pode conter spoilers como o fato de que Carrie destrói a cidade e mata todos os que a humilhavam ou que os sobreviventes decidem abandonar a cidade. Agora que você já sabe disso, pode continuar lendo o texto sem preocupações.
Uma história que extasia e assusta, essa é a melhor descrição possível para essa história, que sabiamente está presente na 4ª capa (não com essas palavras). Muitos pontos desse livro são sinistros, como o fanatismo religioso da Sra. White, e seu Deus vingativo e destruidor, suas crenças e o sangue de Jesus escorrendo do crucifixo no centro da casa. O comportamento animal (e real) dos seres humanos também pode assustar, mas não mais que os poderes e pensamentos de Carrie, que com sua confusão podem varrer sua pobre cidade do mapa, o que de fato fez.

A narrativa é longa e lenta, porém interessante, com suas idas e vindas e seus trechos de documentos, livros, pichações e até mesmo folhas de cadernos. Os pensamentos das personagens são "jogados" no meio dos parágrafos, e o desfecho trágico, embora sempre previsível (já que nas primeiras páginas já se cita a tragédia envolvendo o TC de Carrie), surpreende por alguns fatores e ainda assim mantém todo o seu drama. Muito bom também é a terceira (e última) parte do livro, intitulada "Escombros", onde apenas os documentos e livros falam (não mais a narrativa tradicional) e mostram o pós "Dia do Baile", e as marcas permanentes em todos, que fazem a cidade parecer uma grande necrópole de vivos.

Concluindo, considero o livro (e a tradução de Adalgisa Campos da Silva) de boa qualidade (apesar da tradução do título), assim como a qualidade editorial da Objetiva (com o selo Ponto de Leitura), e acho que quem não ainda não leu esse livro, está perdendo uma literatura de qualidade.

Nota do Elaphar: 9,1

Edição Lida:
King, Stephen. Carrie, a estranha. Trad: Adalgisa Campos da Silva. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. (Selo Ponto de Leitura)

Um comentário:

  1. Olá Elaphar!

    Gostei muito da sua resenha, é uma boa análise do livro. Não li Carrie, apenas vi o filme, e gostei muito.

    Quanto ao sub título, realmente é desnecessário, mas os títulos dos livros costumam ser decididos pelas editoras, o tradutor não tem muita voz aí. E quando o filme saiu antes, é comum usarem o mesmo título (sem falar das capas com foto dos atores).

    No caso do Em Algum Lugar no Passado, do Richard Matheson, foi pior: depois do filme mudaram o título do livro em inglês, de Bid Time Return para Somewhere in Time. :-(

    Parabéns pelo blog, está muito bom!

    Abraços

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