sábado, 20 de novembro de 2010

Anima Animus: o decote de Vênus - Gilson Cavalcante

Gilson Cavalcante é um jornalista e poeta do Tocantins, que reside em Taquaraçu. Não é um escritor muito conhecido, o que por um lado, pode ser justificado pelo estado onde mora, pois (é uma pena) não conheço muito poetas e escritores Tocantinenses, e não há nenhum (ao que eu saiba) no grande cânone brasileiro. Outros estados também são lesados de conhecimento nacional, por exemplo Acre e Roraima. Além do "Anima Animus: o decote de Vênus", Gilson Cavalcante lançou outros livros de poesia: 69 Poemas dos lençóis e da carne, Lâmpadas ao abismo, Re-inventário da paisagem, Poemas da margem esquerda do rio de dentro, e O bordado da Urtiga (esse em especial será resenhado em breve). Ganhou uma série de prêmios literários no Brasil, e o mais importante talvez tenha sido o Prêmio Cidade de Juiz de Fora em 2002 com o livro Poemas da margem esquerda do rio de dentro (o dia que eu conseguir esse livro SE eu consegui-lo, resenho).

A primeira coisa que chama atenção no livro é o projeto gráfico que é extremamente bem feito, o que é bastante interessante já que a edição desse livro não conta com o auxílio de uma grande editora, mas o projeto gráfico do livro é tão bom que por si só já vale a pena sua compra. O livro não possui lombada, o que é não é necessário, já que é um livro pequeno.

A capa é uma beleza, o que jurava ser improvável, pois a grande maioria das capas de livro amarelas são feias (exceções a essa regra são as capas mais simples ou que só contenham o nome do autor e da obra). As ilustrações de Maíra Bellini não aparecem apenas na capa, mas o livro todo é ilustrado nesse modelo de desenho estilizado e P&B, porém muito bonito, e muitas ilustrações (por exemplo a da página 11) são perfeitas e combinam com a poesia da página. O texto dentro do livro é bem colocado, não ficando muito próximo do corte nem afastado demais, harmonizando-se com a página e as ilustrações. A única crítica fica com a numeração da página que é muito grande e fica na parte de cima, mas isso é apenas por gosto pessoal mesmo, e não porque o projeto gráfico é deficiente.

Quanto aos poemas contidos no livro, há um leve teor erótico, porém sem jamais ser pornográfico, há uma diferença bem clara entre poesia erótica e pornográfica (esse link é para uma poesia pornográfica, se você não gosta não clique, e se você é um tarado(a) talvez pode preferir esse aqui, agora chega de pornografia, pois Gilson Cavalcante não tem nada a ver com esse tipo de texto, ou melhor, as vezes tem).

O mais interessante do livro Anima Animus, são os jogos de personagens femininas pagãs e cristãs (mas NÃO aparece Vênus em nenhuma poesia), sendo que Eva de Adão e Penelope Vlixi são as mais reincidentes. O primeiro poema do livro é um culto à Eva (assim como fez Ovídio à Penelope), e é dividido em duas partes, e é um excelente poema, assim como muitos do livro. Além de Eva e Penelope, há diversas outras personagens utilizadas de ouros autores como Amélia (de Mário Lago e Ataulfo Alves), e diversos outros nomes, que participam de jogos diversos jogos semântico-semióticos, alguns de bom gosto, outros não.

Há, entretanto, nesse livro, alguns poemas de gosto extremamente duvidosos ou de beleza poética questionável. Alguns por não possuírem beleza e serem poemas praticamente "abortados" (forçados a vir a luz) como é o caso de Senha. Isso entretanto é perdoável pois muitos grandes poetas já fizeram muitas vezes a mesma coisa (e em muitos casos com muita frequência), dentre eles Max Martins, Manuel Bandeira, Carlos Drummond e etc... Outra coisa é a característica própria de livros de poesia, que nunca têm 100% de poesias que o leitor aprova, e todo o leitor de poesia desgosta de pelo menos uma poesia do livro (exceto o que escreveu, talvez), e o livro que mais chegou perto da perfeição (na minha visão como leitor) foi o "Eu e outras poesias" de Augusto dos Anjos.

Como avaliação final, digo que esse livro de Gilson Cavalcante me agrada, pois é um culto às mulheres de todas as formas possíveis, de todas as caras. Gilson trata da vaidade feminina e da beleza, sem contudo deixar suas mulheres "pobres" em sua poesia. Aparecem mulheres de personalidade forte. Muitas poesias são boas (outras claro, não me agradaram, o que não significa que são ruins). É um livro que vale a pena ser comprado e lido. Esse livro também prova que um bom projeto gráfico melhora e muito a qualidade e poder de atração de um livro (enquanto a coleção Biblioteca Borges da Companhia das Letras prova que um bom projeto gráfico atrai vendas)

Nota do Elaphar: 8,3

Edição Lida:
CAVALCANTE, Gilson. Anima Animus: o decote de Vênus. Palmas: S/E, 2009, 56p.

BÔNUS
Renúncia e arrependimento

Em Penélope, a renda.
Em madalena, o arrependimento.

Quem com o fio tece
a arte do acontecido
não se perde ou esquece
a cor da vida no vício.

Arrependida, Madalena confia
a Penélope suas melenas:
tranças des(a)fiando renúncia.

Madalena doidivina
saiu fora da linha.
Nem por isso atira pedras,
vive de enfiar as lágrimas
dentro da agulha fina.

Pecado Primordial (I)

Sou Eva
a viva flor primeva
a que desceu do paraíso
a par do que precisa
consertar.

Sou Eva
doida doída
doidivana doidivina
a que se dividiu na dor
parindo outras dores.

Fui Eva
de cama mesa banho
meu corpo não tem tamanho
e cabe na cama de asoecer
os homens.

Sou Eva
e trago o pecado
na carne hipocondríaca
contorcida entre costelas.

A serpente entretelada
de estrelas.

O amor de Rosa

Rosa feriu-se
por conta de amar
desesperadamente.
Amou tanto que ficou
demente.

A cabeça fora do lugar
deslo(u)cada no tempo.
Tronco, membros
removidos ao vento.

Rosa, triste
murchou. Seu nome
espetado no espinho
despetalou-se.

Rosa sem carinho.

Isso há de acordá-la
para set esta flor
ou a floresta
encantada.

3 comentários:

  1. ainda não vi esse livro por aqui. é ebook ou emprestado???
    gostei muito do AMOR DE ROSA.
    ei, acabei de fazer minha prmeira resenha \o/ vai lá ver e me dá sua nota rs
    coisadelivro.blogspot.com

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  2. Gosto em particular desta:

    Último ato

    Cmpletamente nu.
    Nu de tudo, nu de todos.
    Agora estou pronto
    pra vestir a carne dos anjo
    e balaçar nos galhos
    da árvore da volúpia
    sem nenhuma fantasia.

    Fecham-se as cortinas
    porque a vida vai começar
    do outro lado do espelho.

    Ti@, o livro é de um poeta que conheci numa noite cultural em Taquaruçu/Palmas. Vi ele declamando seus poemas e gostei. Comprei dois livros e bebi algumas cervejas com ele.

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  3. ahhhhhhhhhh tá...
    imaginei q fosse seu...

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