Mais um livro do desafio literário desse mês, e a resenha da vez é o grande Best Seller da escritora norueguesa Åsne Seierstad.
Segundo a autora, durante sua estadia no afeganistão (a escritora era correspondente de guerra em 2002, enquanto o afeganistão estava na moda) conheceu um livreiro (pseudônimo Sultan Khan) e decidiu escrever um livro sobre sua vida, então morou com a família dos Khan durante 3 meses.
Ao ler o livro, cheguei a conclusão de que metade do que foi escrito no livro é inferência da autora. Por quê? Åsne não compreendia bem o dialeto persa falado por metade da famíla, então só podia se comunicar com parte das pessoas, mas todas as personagens do livro tem sua psicologia (com medos, pensamentos, vontades e etc...) extremamente descrita. Outra coisa muito interessante, é que todas as mulheres do livro têm pensamentos ocidentalizados de sua própria cultura, o que me faz pensar que são pensamentos, na maior parte das vezes, da autora.
Outra coisa que me chamou muita atenção no livro é: "os membros da família Khan falaram o que não deveriam", o que provavelmente deveria causar problemas caso um membro da família ou conhecido lesse o livro, e que coincidência: o livro causou problemas. O livreiro Shah Muhammad Rais tentou processar a autora e escreveu um livro em resposta chamado "Eu Sou o Livreiro de Cabul" (publicado em nossas terras pela Bertrand Editora). De qualquer modo, a quantidade de ficção desses livros é tão grande que nenhum dos dois pode ser considerado a rigor um "retrato da vida afegã" (como é cafona essa frase).
Cabul não é tão diferente do Brasil como podemos pensar. Uma das maiores diferenças entre nosso país e o Afeganistão é a guerra que destruiu quase completamente o país. Muitos episódios do livro poderiam ter acontecido aqui (e acontecem), como o caso da mendiga menor de idade que é abusada por um livreiro amigo do filho de Sultan. A outra grande diferença é quanto ao tratamento às mulheres, que é justamente o que mais é retratado no livro.
Nota do Elaphar: 8,5
Oi Elafar, lembra dos versos de Fernando Pessoa: “O poeta é um fingidor, finge tão completamente...”pois eles também se aplicam aos escritores, nunca devemos acreditar plenamente em suas palavras. Também achei o mesmo que você e até pensei em Jonathan Swift com As aventuras de Gulliver que inventou a maior mentira para justificar sua história, e tantos outros que fizeram o mesmo. Quando inicio minha resenha deste livro, também para o Desafio Literário, digo como você: “Segundo...”
ResponderExcluirMuito boa sua resenha, beijos
Ao ver esse livro na lista de sugestões para o desafio não consegui imaginar ao certo sobre o que se tratara. Não gostei muito do enredo não. Qual é a lógica de morar com esse familia 3 meses, e no fim, acabar escrevendo suposições?! Enfim, não me agradou em nada a história. Mas esta ótima a sua resenha ;)
ResponderExcluirBeijos
Pelo que a Åsne Seierstad supôs, achou e inventou (boa a desculpa de ficção!) esse livro não é considerado rigorosamente um livro reportagem! Por isso muita gente não gostou e a família se sentiu insultada, mesmo que com o best-seller tenham se beneficiado. Óbvio que nem tudo é inventado e a situação das mulheres no país é a pior possível. Gostei de sua resenha!
ResponderExcluirabs
Jussara
Hmmm...já não gostei, né? Não sabia desse lance. Aí o livro fica com cara de pretexto...chato isso!
ResponderExcluirBeijocas