sábado, 16 de abril de 2011

A Mulher Desiludida - Simone de Beauvoir

Estava devendo essa resenha desde o final de fevereiro, mas acabei não resenhando. Simone de Beauvoir é uma grande filósofa e escritora francesa, amiga de Sartre e Camus. Sua biografia é cheia de detalhes e anedotas peculiares, mas não vamos nos deter nelas. Sua obra mais conhecida é por certo "O Segundo Sexo", marco histórico do movimento feminista. Sua obra literária é predominantemente auto biográfica (Memórias de uma moça bem-comportada, A força das coisas, uma morte muito doce e Tudo é dito e feito, Balanço Final), e seus textos de não-ficção também são muito apreciados (como A Velhice e A Cerimônia de Adeus). Seus romances são considerados obras primas, em especial Os Mandarins. Simone é publicada no Brasil pela editora Nova Fronteira.

A Mulher Desiludida é um livro que contém 3 novelas curtas: A Idade da Discrição, Monólogo e A  Mulher Desiludida. Todas as novelas são narradas em 1ª pessoa, sendo que A Idade da Discrição e A Mulher Desiludida são escritas sob a forma de um diário, enquanto Monólogo é um monólogo (como o próprio nome sugere).

É impressionante como Simone de Beauvoir nessas 3 narrativas consegue penetrar no psicológico de suas personagens-protagonistas. Além de Simone, só conheço um escritor que consegue compreender em profundidade todo o psicológico de um personagem tão distante do próprio autor (esse nome é Stefan Zweig, um dia resenho um livro dele).

As 3 novelas possuem muito em comum; todas são protagonizadas por mulheres, que são dependentes econômico-afetivamente dos homens e veem sua vida desmoronar. Monólogo distíngue-se dos outros por sua narrativa (sem pontuação, o que sugere uma explosão sentimental) e seu "tom". Há um pouco de comicidade em Monólogo, e a ambivalência da personagem gera uma ambivalência em como a analisamos (não sei se tenho compaixão, rio ou se digo "bem feito" de seu estado).

A Idade da Discrição mostra com muito mais força o Gênio de Beauvoir. É uma novela curta, monótona mas ainda assim magnífica. Beauvoir é um pouco cruel com o envelhecimento, e aqui o envelhecimento é tratado de forma confusa e polissignificativa. Não tem como não ficar cativado com sua protagonista, que pode se assemelhar a uma mulher comum.

Em A Mulher Desiludida, a problemática é ainda mais profunda, e a protagonista que possuia as filhas perfeitas (e felizes cada qual no seu modo de vida) e o casamento dos sonhos vê sua vida ruir. Seu marido arruma uma amante e ela se vê aceitando e se comportando diferentemente, ao nível que a amante conquista cada vez mais espaço de sua vida. Há uma guerra silenciosa contra o tempo de Maurice (marido). Aos poucos a protagonista vai se dando conta de que sua vida nunca foi o que ela pensava. Descobre também que, apesar de totalmente distintas, ambas as filhas não atingiram a felicidade em seu estilo de vida. Uma das filhas, espelhou-se na mãe e a outra negou o estilo de vida da mãe e da irmã completamente.

A Mulher Desiludida conta 3 tragédias familiares e pessoais distintas, mas possuem muito em comum entre elas e entre as tragédias familiares reais de muitas pessoas. A voz das personagens é brilhante, manejadas com maestria pela autora. O psicológico nas obras é tão bem construido que na maioria das vezes esquecemos que estamos lendo ficção e acreditamos estar dentro das mentes. As personagens de Beauvoir parecem mais reais do que as pessoas reais, parecem mais reais do que nós mesmos.

Por fim, a edição da Nova Fronteira é de ótima qualidade. Pepel pólem, capa muito bonita (apesar de não ter orelhas), diagramação excelente e grandes traduções de Helena Silveira (A Idade da Discrição e A Mulher Desiludida) e Maryan Barbosa (Monólogo). O texto é fluido e decerto esse é um dos melhores livros do ano. A Idade da Disrcição e A Mulher Desiludida são nota 10, enquanto Monólogo, ao meu ver, é ligeiramente inferior.

Nota do Elaphar: 9,8

Edição Lida:
BEAUVOIR, Simone [Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de]. A Mulher Desiludida. Trad: Helena Silveira e Maryan A. Bon Barbosa. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010, 254p. (Coleção Fronteira)

2 comentários:

  1. Olá Elaphar, gostei muito de sua resenha, principalmente pelas dicas de leitura. Não conhecia esta escritora e me identifiquei com seu seus livros. Adoro enredo com trama psicológica. Obrigada pela dica, beijos

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  2. Ainda não tive oportunidade de ler Simone de Beauvoir e gostei muito da sua resenha. Acho que chegou a hora de ler, né?
    Valeu pela dica.
    Bj

    Paula
    http://the-bookworms-club.blogspot.com

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