Essa antologia foi fundada a partir de três afinidades: as escritoras são mulheres, de língua inglesa e foram traduzidas por Jorge Wanderley. Para quem não conhece, Jorge Wanderley foi um grande tradutor brasileiro (falecido em 1999), que traduziu os 154 Sonetos de Shakespeare, o Inferno de Dante, o Corvo de Poe e várias antologias de poetas anglófonos, além de sua obra como poeta. Em suas antologias, não costumava diferenciar homens e mulheres, entretanto, esta antologia póstuma contém apenas mulheres.
Mais do que simples questões de gênero puramente ditas, há um fio que conduz a poesia dessas mulheres, que é o que o grande Camus chamaria de Absurdo; essas mulheres são extremamente consientes do absurdo da existência.
O que me chamou a atenção nesse volume foi a quantidade de nomes desconhecidos. Exceto Plath, Sexton e Dickson (além de já ter ouvido Bishop, sem nunca ler nada de sua obra), nenhum outro nome me soava meramente familiar. São ao todo 12 poetas (18 poesias), com suas poesias muito bem traduzidas e 3 excelentes ensaios sobre a biografia e poética das escritoras. Apesar de poucas poesias, os maravilhosos ensaios valem a pena.
Falando das poesias: a maioria delas possui um nível de obscuridade que as torna impenetrável.
Sylvia Plath é de longe (junto de Dickinson) a mais conhecida, e sua poética é bastante peculiar. Colher Amoras [Blackberrying] e Outono de Rã [Frog Autumm] são poesias tão diferentes entre si que dariam todo um ensaio. Se você não conhece Plath, deve conhecê-la. Já Anne Sexton, que conhecia mas não apreciava, me surpreendeu com o A Mulher do Fazendeiro [The Farmer's Wife], que é simplesmente a melhor poesia do livro (apesar de ser também a tradução mais "fraca"). Vou passar a ler a poesia de Sexton.
Emiy Dickinson está em extrema moda nos últimos dias, possuindo fans incondicionais. Recentemente ganhou uma grande coleção traduzida por José Lira. Geralmente conhecida como "poeta para poetas", seu estilo é inovador em todos os sentidos. Seus poemas curtos e concisos ficam entre o compreensível e o incompreensível. Mas não se engane, traduzir Dickinson não é uma tarefa fácil.
Quanto às outras poetas, poucas chamam atenção, e entre elas inclui-se Marianne Moore (com Poesia e Que são os Anos), Louise Bogan (com fragmentos de Segundo o Persa) e Denise Levertov (com O Segredo). As outras traduções são boas, mas as poesias pouco me cativaram, exceto as já citadas.
Como falei, os ensaios são excelentes, nos mostrando o lado biográfico e a obra poetica de todas as escritoras. A produção gráfica da 7Letras é outra obra de arte a parte. Capa, orelha, lombada, tudo excelente, em ótimo papel pólem de 90g/m².
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