Influenciado fortemente por H.G.Wells e com um certo ar de romantismo tardiu, O Fim da Eternidade é uma história de amor em um cenário de ficção científica. Diferente de tudo o que foi escrito anteriormente (e diferente do que é escrito hoje), Asimov aborda com maestria os paradoxos da viagem no tempo:
[...]- Vejamos um caso mais provável e mais fácil de analisar: um homem que, em suas viagens pelo Tempo, encontra a si mesmo...Esse é apenas um dos muitos paradoxos e ciclicidades da narrativa.
- Qual é o problema de um homem encontrar a si mesmo?- perguntou Harlan, abruptamente.
[...]
- E as quatro subdivisões nas quais tal ato pode cair. Chamemos de A o homem anterior no fisiotempo, e de B o outro, posterior. Subdivisão um: A e B talvez não se vejam, nem façam
nada que vá afetar um ou outro de maneira significativa. Nesse caso, eles não se encontraram realmente; então, podemos desprezar esse caso como trivial.
- Ou o B, o indivíduo posterior, pode ver o A, mas não ser visto por ele. Aqui, também, não há por que esperar sérias consequências. B, vendo A, o vê numa posição e ocupado em alguma
atividade que ele já conhece. Não há nada de novo envolvido.
- A terceira e a quarta possibilidades são A vê B, mas B não vê A; e A e B se vêem. Em cada possibilidade, a questão séria é que A viu B; o homem, num estágio anterior em sua existência
fisiológica se vê nurn estágio posterior. Observem que ele ficou sabendo que estará vivo na idade aparente de B. Ele sabe que viverá o bastante para praticar aquela ação que testemunhou. Urn homem que conhece seu próprio futuro, em qualquer mínimo detalhe, poderá agir corn base nesse conhecimento e, portan-to, mudar seu futuro. O resultado é que a Realidade deve ser mudada o suficiente para não permitir que A e B se encontrem ou, pelo menos, para evitar que A veja B. Então, como nada que se tornou não-Real numa Realidade pode ser detectado, A nunca encontrou B. Da mesma forma, em cada aparente paradoxo da viagem no Tempo, a Realidade sempre muda para evitar o paradoxo, e chegamos à conclusão de que não há paradoxos nas viagens no Tempo e não pode haver. (p.155-156)
A trama envolve uma organização (a Eternidade) que faz alterações no tempo a fim de garantir a integridade da raça humana (até um certo período, pois há alguns séculos que não estão ao alcance dos Eternos). Os Técnicos são os responsáveis por essas alterações "mínimas" qua alteram toda a história humana. Há um pouco da Teoria do Caos nessa obra, porém com o acréscimo da Inércia Newtoniana, criando uma espécie de Inércia das Alterações Temporais. Uma coisa a se acostumar na leitura desse livro é a mist5ura da escrita literária com a científica (apesar dos erros).
A viajem no tempo e o romance entre Andrew Harlan (Técnico da Eternidade) e Nöys Lambert (uma pessoa normal, denominada pelos Eternos de Tempista) são aparentemente os dois principais temas do livro, mas o tema principal é outro, sutilmente colocado na obra, que é o das viagens espaciais. Não concordo com Asimov quanto a importância das viagens espaciais, mas é muito legal como esse tema é trabalhado no livro, sem ser trabalhado exatamente, pois não há viagens espaciais no livro, e essa falta é responsável pelo fim da raça humana após as "décadas ocultas".
Lastimavelmente, a técnica narrativa de Asimov é péssima no quesito descrição. As descrições do autor não são nem um pouco interessantes, apesar de toda a narrativa o ser. Ao ler o livro cheguei a conclusão de que ele seria bem melhor se fosse um conto (pela estrutura, temática e técnica do autor), e descobri que de fato era, mas recebeu acrescimos posteriores pelo autor a fim de transformá-lo num romancel. O livro provaveolmente seria melhor sem esses acréscimos.
O final interessante, apesar de pouco criativo (e do spoiler desgraçado do título) e a temática muito original e bem desenvolvida. Produção gráfica de boa qualidade e tradução fluente. Essa resenha é um Bõnus do Desafio Literário. Para conferir a lista de Abril Clique aqui. O livro pode ser encontrado facilmente em qualquer livraria, pois a edição da Aleph é recente.
Nota do Elaphar: 9,1
Edição Lida:
ASIMOV, Isaac. O Fim da Eternidade. Trad: Susana Alexandria. São Paulo: Aleph, 2007, 255p.
Se mistura romance com a FC, acho que pode dar boa coisa, gostei muito da sua resenha. Eu conheco a historia do Homem Bicentenario e gosto do estilo. Boa escolha.
ResponderExcluirPara mim, a temática já é um excelente atrativo de aproximação da obra. Pelo exposto parece ter uma simplicidade (ainda que profunda) que muito me agrada.
ResponderExcluirBjs
Tive a minha primeira experiência com Asimov este mês, mas pelo que vem acompanhando no seu blog tenho certeza que será um autor que me agradará muito.
ResponderExcluirBeijos