quinta-feira, 22 de março de 2012

Assassinatos na Academia Brasileira de Letras - Jô Soares

Jô Soares é um humorista respeitadíssimo, além de escritor famoso. Independente da qualidade de seus livros, eles vendem muito.

Essa narrativa conta de forma bem humorada, algumas vezes não tão bem assim, um caso improvável de um serial killer que mata acadêmicos da ABL com um veneno letal, ao passo que o primeiro acadêmico morto, Belizário Bezerra, escreve um livro justamente contando a história de um assassino de acadêmicos, intitulado Assassinatos na Academia Btasileira de Letras. Percebe-se de cara a metalinguagem, que será muito presente no decorrer da obra.

Além da já dita metalinguagem, outro recurso que é muito usado pelo autor é o de citação. O nome do detetive é Machado Machado (em homenagem a Machado de Assis no prenome e o sobrenome Machado), além desse detetive ter a mania de citar Machado (o de Assis). Outras intertextualidades também surgem na narrativa.

Porém há uma série de problemas no livro. O primeiro é a falta de graça na maior parte do livro, que na maioria das vezes só é engraçado na coda de alguns capítulos. Outro é que a característica geralmente mais elogiada do livro, a pesquisa histórica, é falha e fantasiosa, numa mistura incongruente de realidade, não-realidade, ficção e erro. Essa "pesquisa histórica" deveria também ser acompanhada de uma pesquisa filológica. Sério, na maioria das resenhas que vejo sobre esse livro o único elogio que as pessoas costumam fazer é sobre as páginas do jornal "O Paiz" que aparecem com uma suposta "grafia original" da época, que não passa de uma linguagem moderna com algumas marcas arcaizantes. Algumas palavras no jornal aparecem com grafia atualizada e fora da grafia da época, o que é uma pena. Não sei se corrigiram em edições subsequentes.

A história do serial killer começa a tomar folego com os últimos assassinatos (depois da metade do livro), e o autor passa a maior parte do tempo em rodeios e investigações infrutíferas. Os personagens são todos previsíveis, e incrivelmente quase todos possuem sérios disturbios sociais ou mentais. E para variar o detetive Machado Machado pega todas as mulheres do livro, ou pelo menos as mulheres bonitas.

Quando comecei a ler o livro estava doido para dar uma spoilada aqui (faz tempos que não faço isso), mas o livro, apesar de algum humor - como na passagem onde Machado Machado até pensa em parar de fumar, e o motivo, ou quando o carro fica sem gasolina - não me deu a menor vontade de estragar a vontade de vocês lerem o livro, que pode até ser nula. Não me entendam mal, o livro é até legível, mas não é bom. Dá para ler sem morrer de tédio, devido a algumas passagens de humor bem ou mal colocadas, mas no final a sensação que dá é que foram algumas horas perdidas. Por fim o livro é curto, páginas grossas para parecer volumoso e um bom papel para a leitura.

Esse livro foi lido para o desafio literário 2012.

Um comentário:

  1. Li apenas o Xango de Baker Street dele, e faz muito tempo para levar a sério, mas achei bom. Ele sabe lidar com as palavras, mas, infelizmente, às vezes acaba caindo no "bom senso do comum, tentando ser extraordinário". Nada de novo.

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