Não consigo compreender como condenaram, no Brasil, a obra de Maurice Renard ao esquecimento. Não há um único livro desse autor publicado no Brasil, e além da obra dele estar em domínio público é uma obra que povoa o pensamento popular, mesmo que indiretamente. Não há razão, já que se for considerar a obra desse escritor como medíocre e/ou sem grande público consumidor, o mesmo poderia ser dito de Maurice Leblanc, que enche as prateleiras de nossas livrarias.
Maurice Renard foi um escritor de histórias fantásticas e de ficção científica do final do século passado e início do presente. Podem não conhecer seu nome, mas suas criações são, direta ou indiretamente, repetidas na cultura popular, como máquinas de encolher ou transplante de mãos, que é o caso da presente narrativa. Les Mains D'Orlac é a história de um pianista que sofre um acidente ferroviário tem as mãos destroçadas, e após passar por um transplante de mãos coisas estranhas acontecem, já que mão era de um assassino. Todos conhecem alguma citação à essa história, mesmo que seja o célebre episódio do Chapolin colorado quando transplantam a mão de uma bailarina. Esse livro possui ao menos 4 adaptações cinematográficas, e já assisti o filme alemão.
Existe uma grande dificuldade para ler esse livro: o francês, dado a inexistência de versão brasileira. Para um estudante indisciplinado e autodidata da língua, é muito difícil ler um texto completo, apesar dos conhecimentos no idioma. O excesso abusivo da palavra "Mains" é um tanto irritante, e confunde um pouco a leitura.
Li só o primeiro lvro, contendo a história do acidente e da cirurgia, mas não conta a história dos acrimes e do desfecho. Acho que não vou ler ainda a segunda parte, então fica para a próxima.
A história e narrada por um jornalista investigativo, que deseja fazer um livro-reportagem sobre o acontecido, o que dá um quê de verossimilhança na narrativa. Não sei se é pelo meu desconhecimento no francês, mas acho que o narrador possui um interesse demasiado na esposa do personagem título. De qualquer modo, a história começa com um mal pressentimento de Rosine Orlac, e posteriormente com o acidente do marido.
Próximo da morte, Stéphen Orlac é levado para Cerval, o melhor cirurgião da frança, e é por intermédio desse cirurgião que Orlac é salvo e, posteriormente, faz o macabro transplante de mãos. Há outros personagens na narrativa, como o pai de Stéphen, que não vai ver o filho por preferir a sua reunião espírita.
A perte mais legal do livro, ou pelo menos a que mais gostei, foi quando chegam os seguradores do marido e Rosine percebe a importância das mãos para a vida de Stéphen, e fica atordoada e vai falar a Cerval:
Aí se pergunta, o que acontecerá? Cadê os homicídios em Série?– C’est moi, maître : Mme Orlac. J’ai oublié de vous dire… Les mains… Mon mari… C’est Stéphen Orlac, le pianiste. Alors, les mains, docteur, sauvez-les ! Il faut les sauver à tout prix, vous comprenez !… Comment va-t-il ?On répond très posément :– M. Orlac, petite madame, ne va ni mieux ni plus mal. Il a bien supporté la première intervention. Toujours sans connaissance. Ce qui domine notre affaire, c’est que le blessé puisse affronter l’opération de demain. Pour le moment, il est, si j’ose dire, imprégné de sérums. C’est une fleur coupée dans un vase plein d’eau. Une fleur qu’il s’agit de replanter. Nous en sommes là. La contusion au cerveau, voilà le hic. Le reste est secondaire, y compris les mains. Je ne puis vous assurer que d’une chose, c’est que tout sera fait de ce qui est faisable, et que j’emploierai tout mon pouvoir à sauver l’artiste avec l’homme.
Isso só no segundo livro, que vai narrar os acontecimentos pós cirurgia, as mudanças e pesadelos em Orlac e os crimes que seguem a mão misteriosa. Não sei se por influênciaa do filme, mas acho que Orlac não se torna assassino, e sim outra pessoa aproveita os acontecimentos para cometer uma série de assassinatos e culpar as mãos. É uma pista que nos dá, levando em consideração que o capítulo de número 11 da segunda parte se chama "Confession" e o 13 se chama "Souricière". De quaquer modo só dá para saber lendo o segundo livro.
É difícil avaliar a linguagem do livro, por estar escrito em outra língua. O que pude perceber é o clima sombrio estilo noir, um tanto cliché, mas já deu origem à bons livros, particularmente de literatura policial e ficção científica, e nesse caso em particular, dos dois juntos. O filme e o texto são muito diferentes, de história e de nome dos personagens, além de ser um crime só no filme, e não vários.
Esse livro foi lido para o Desafio Literário de 2012. Apesar do tema ser Serial Killer, esse livro só narra o início da vida do suposto serial killer, de como sofreu o acidente e da cirurgia que dá origem (ou não) a uma série de crimes que acontecerá posteriormente. Não sei se vai dar tempo ainda de eu ler a segunda parte do livro para o desafio, mas faço um apelo para as editoras: traduzam e publiquem esse livro em português!!!
Nota do Elaphar: 7,9
Depois dessa excelente apresentação, quero muito ver a obra de Maurice Renard publicada aqui.
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