domingo, 5 de fevereiro de 2012

Alceste - Eurípides

Desculpem aos meus fãs, se é que possuo algum, pelo meu longo desaparecimento. Fiquei um pouco cansado de resenhar durante um tempo (na verdade, fiquei um pouco sem vontade de resenhar, e se não fossem alguns comentários animadores não voltaria). Apesar de sair no meio do desafio literário de 2011 (em parte, pois li os livros, só não os resenhei), decidi novamente tentar concluir o desafio, e fiquei surpreso ao saber que fui leitor Ouro ainda no desafio anterior. Enfim, vamos ao que interessa....

É incrível como, apesar de ser fã dos clássicos greco-latinos, nunca havia lido Eurípides... Já possuia esse livro há tempos, só que nunca o tinha colocado em minhas prioridades de leitura... grande erro!

Simples: Eurípides talvez seja o mais inovador do tradicional teatro grego... é difícil presumir a musicalidade de seus versos e seu peso em sua língua original, hoje morta, mas acredito no que dizia Aristóteles sobre o poeta: Talvez Eurípides seja o melhor e mais trágico dos poetas gregos, apesar de escrever pior.

Alceste é uma obra teatral sem par em sua época... é uma obra que Shakespeare poderia assinar em sua época sem sentir-se envergonhado, aliás, há muito mais entre Eurípides e Shakespeare do que sonha nossa vã crítica literária. Não me deterei em diferenças formais a respeito da história, mas algumas que são mais interessantes: a presença do amor como elemento importante descrito na obra, e não como acessório para a história; os diálogos quase sofistas, onde diferentes pontos de vista criam diferentes verdades retoricamente (diálogo de Admeto e Féres, ou Hércules e Admeto); a presença de elementos filosóficos pré-socráticos como de Anaximandro ou Protágoras ou Heráclito; e um desfecho que vai contra o fado, o que parece incompatível com a tragédia, que tem no fado o seu principal elemento condutor. Essas são algumas das coisas que nunca vi na literatura anterior a Dante, exceto (em parte) no Tanakh.

A história é das mais conhecidas: a hora da morte chegou para Admeto, rei de Féres, mas Apolo consegue convencer a morte a levar quem optar por morrer no lugar do rei. Apesar de inúmeros amigos e pais em idade avançada, ninguém aceita morrer no lugar do rei, apenas sua mulher Alceste. A morte é impiedosa e leva Alceste embora, aí a tragédia está consumada.

Mas esse livro não é uma tragédia comum, e a narrativa acaba por não se cumprir completamente. Por acaso, Hércules está passando pelo local e se hospeda na casa de Admeto, que não nega a hospitalidade, e é o mesmo Hércules que derrota a morte e traz Alceste novamente para seu marido. Sem dúvidas, um desfecho que não é habitual em tragédias.

O mais interessante nessa tragédia é a matéria humana da composição, até mesmo na parte divina, e a figura da mulher. Falta um pouco da habitual violência exacerbada presente na literatura grega, mas as presenças inovadoras suplantam essa "carência", e diminuem a monotonia da óbra, que é interessante e profunda sem ser tão dinâmica quanto as tragédias de Ésquilo. Livro mais que indicado.

A respeito da tradução de J. B. de Mello e Souza, acho que talvez seja problemática por vários fatores: mudanças absurdas de registro, confusão onomástica de nomes gregos e latinos, tradução não versificada, e para piorar é fácil de ser encontrada em edição espúria e plagiada pela Martin Claret, e por outro lado, sua edição digna é difícil de ser achada por ser antiga (Jackson editores).

Essa leitura faz parte do Desafio Literário do mês de Fevereiro.

Nota do Elaphar: 9,2

2 comentários:

  1. Gosto muito das tragédias gregas, já ouvi falar muito de Alceste, mas nunca li. Ler sua resenha me animou!
    Criei um blog há menos de um mês, ficarei infinitamente feliz se você puder visitá-lo e, quem sabe, segui-lo e comentar em alguma postagem (entrepalcoselivros.blogspot.com)! Ótima semana pra você! :)

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  2. Oi, Elaphar! Da minha parte é só alegria por vê-lo de volta ao DL. Sua ausência assim como a sua presença no Desafio é de fato marcante. E o fato de ter sido leitor ouro no desafio passado demonstra que o foco é o processo, a caminhada e não a chegada. Portanto, curta a sua caminhada literária no DL 2012 da forma que melhor lhe aprouver. O prazer da leitura em primeiro lugar. Boas leituras!

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