quarta-feira, 4 de abril de 2012

Songs of Li-Tai-Pé from the Cancioneiro Chinês of Antônio Castro Feijó - Trad:Herbert Stabler

Para o DL 2012 resolvi ler esse livro, que é no mínimo um caso bizarro, que põe em dúvida algumas questões de autoria ou orientalidade. A primeira coisa que chama atenção é que, se o tema do DL é escritor oriental, por quê o nome de Antônio Castro Feijó, notável parnasiano português,  está na frente, ao lado de Herbert Stabler, como autor do livro? O caso é um tento complicado, já que, na verdade, o livro contem uma tradução inglesa de poesias chinesas da disnastia Tang, mas não uma tradução direta, mas sim uma tradução e recriação portuguêsa de Feijó, que por sua vez leu as poesias chinesas através de Le Livre de Jade de Judith Warton, que traduziu com auxilio de um chinês poesias para o francês; ou seja, essa é uma tradução inglesa da tradução brasileira da tradução francesa de poesias chinesas.

A literatura chinesa é, provavelmente, a mais rica do oriente, e talvez a mais rica do mundo, ao menos em verso (em prosa os povos semíticos ganham em tradição e qualidade). A dinastia Tang é das mais ricas, e é engraçado que a china também possui uma das mais antigas tradições de poetisas (ou poetas mulheres, se preferir), possuindo um volume monumental de produção feminina em versos.

Quanto à tradução, há muito mais atás desse simples ciclo de traduções sucessivas. Primeiro deve-se ver a importância que teve o Livre de Jade de Judith Warton (que lerei em breve) ne história da poesia ocidental. Um dos ideais do parnasianismo era o exotismo, e uma das formas de tê-lo era aproveitando temáticas orientais. A poesia, arte e povo chinês foi estremamente sedutora aos poetas da época, e o Livre de Jade foi um dos grandes responsáveis pelo conhecimento ocidental da poesia chinesa. Para se ter uma idéia, no brasil muitos poetas e prosadores falaram sobre a china e/ou a citaram em seus escritos, dentre eles Bilac, Raimundo Correia e até Machado de Assis (que traduziu alguns poemas do Livre de Jade).

Aí chegamos em Feijó. Como bom parnasiano que era, também ficou tentado a usar a china em sua obra poética, e assim como Machado de Assis, traduziu uma série de poemas do Livro de Jade, mas ao invés de apenas colocar como uma parte de um livro, lançou um livro inteiro com essas recriações. É importante mencionar que a ideia de tradução para esses poetas é muito diferente da que muitas pessoas tem: a tradução é um processo criador, onde fidelidade textual e até formal pouco importa comparado à expressão poética. Tanto Machado de Assis como Castro Feijó fizeram dessa poesia oriental uma parte de sua própria obra poética e filosofia poética, e é muito difício dizer até que ponto essas poesias continuam "chinesas" ou passam a "portuguesas". Isso sem contar o fato de que essas poesias passaram por quatro mãos (o poeta chinês, Judith Gautier, Feijó e o tradutor inglês Stabler).

As diferenças entre os textos é tão gritante que, por exemplo, a poesia "The Mandarin's Wives" é composta de 3 estrofes, cada uma com a voz de uma esposa do mandarim, enquanto na versão francesa de Judith o poema é "Les Trois Femmes du Mandarin" e possui quatro parágrafos, os três primeiros com as vozes das três mulheres  (a esposa, a concubina e a criada, não mais 3 esposas) e no último a voz do próprio mandarim. Mais interessante é perceber a diferença entre as descrições, como se pode perceber no seguinte trecho:
Comes an Hour, half sad, half sacred,
The Humming Birds flutter by,
Giving the Lips of the Flowers,
A tender Caress as they fly.

In the distance, his Skiff not moving,
The Fisherman, sunbronzed and tall,
Breaks the lake's silver surface,
As he draws in his Net with is haul.
    Li-Tai-Pé - The Fisherman

C'est le moment où les papillons poudrés de soufre appuient leurs têtes veloutées sur le coeur des fleurs.
Le pêcheur, de son bateau immobile, jete ses filets qui brisent la surface de l'eau.
    Li-Tai-Pê - Le Pêcheur
Percebe-se claramente a diferença de tom, linguagem até mesmo de descrições (que são mais frequentes na tradução inglesa, por ser bem maior que a versão francesa) e até mesmo na imagem e significação.

Eis aí o maior problema deste livro. Entendo que foi escrito para possuir uma significação isolada dos textos que deram origem a essa versão, mas o problema é que esse livro é fraco. A versão de Judith aparentemente (não a li, mas sei que foi feita em prosa) perde em poeticidade, e essa, apesar de ser em verso, não a ganha. Os poemas "chineses" que aqui aparecem se parecem mais um arcadismo ralo, só que sem pastores e ovelhas (mas mantendo as flores e as flautas).

O livro é dividido em 4 partes: Primavera, Verão, Outono e Inverno. As duas primeiras são completamente maçantes, com aquele mal lirismo de nosso arcadismo. O outono e inverno são melhores, mostrando um pouco mais os elementos que já conhecia da poesia chinesa. Diferente do que o nome sugere, não contém apenas poemas de Li-Tai-Pé, mas de vários outros poetas da dinastia Tang, entre eles Tu-Fu, meu favorito. Enfim, é um livro curto (apenas 24 poemas e um longo prefácio, totalizando umas 70 páginas) mas que não vale tanto a pena ler. Talvez a versão em portugês seja melhor, mas duvido!

Acho desnecessário mostrar exemplos de poesias, já que estão em inglês e o livro está em domínio público, assim como acho inútil traduzir (ou melhor, retraduzir) já que o texto já é uma tradução do português, que não pude encontrar.

Nota do Elaphar: 7,2
Edição Lida: FEIJÓ, A.C; StTABLER, J.H; Songs of Li-Tai-Pé from Cancioneiro Chinês. An intrepretation of Portuguese by Jordan Herbert Stabler. New York: Madison Square Press, 1922.

2 comentários:

  1. Você sempre traz um leque de leituras fora do comum. Não se sai daqui sem aprender algo enriquecedor.

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  2. Interessante esta referência bibliográfica, mas não conhecendo as obras originais...
    ----------------
    Judith Warton ?!
    O nome correcto é Judith Walter (1ªed.) e Judith Gautier (2ª ed.)
    As poesias da 1ª e da 2ª edições do Cancioneiro Chinês assim como as edições digitalizadas da 1ª e 2ª edições do livre de jade estão acessíveis on line nomeadamente através deste
    sítio:
    http://manueladlramoslivro2001.wordpress.com/indice/6-o-cancioneiro-chines-de-antonio-feijo-a-nossa-mais-bela-joia-orientalista/

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