quinta-feira, 14 de julho de 2011

Um Erro Emocional - Cristovão Tezza

Desculpem novamente a demora... os trabalhos da UFPA estão me tirando todo o tempo que tinha livre para falar de literatura à toa. Esse livro (que comprei no início do ano) me foi indicado por uma amiga que possui um gosto literário muito parecido com o meu (com algumas pequenas divergências), o que já era uma pre-disposição para eu gostar do livro.

Existe uma temática recorrente na literatura brasileira contemporânea, que é a problemática da vida atual em relação ao passado, as diferenças entre o cotidiano atual e as lembranças (nem sempre felizes) e traumas passados. Nessa temática inclui-se o livro Tempos Férteis de Beatriz Moreira Lima e também este, só que de formas bastante diferentes.

Cristovão Tezza é um dos escritores novos mais renomados da atualidade, com um sucesso incomum de venda e de crítica especializada (desconsidero a crítica jornalística e midiática por, na maioria das vezes, não valer nada). Seu livro "O Filho Eterno" ganhou uma série de prêmios importantes como o Jabuti, o Portugal Telecom e o da APCA. "Um Erro Emocional" é o livro mais recente do escritor.

Antes de falar do livro propriamente dito, me permitam mais uma divagação sobre a técnica do Fluxo de Consciência (técnica muito usada nesse livro). Muitos pensam que essa técnica é bem recente ou vanguardista, mas na verdade é um recurso estilístico bem velho (ao que me consta, usado pela primeira vez por Laurence Sterne). Acho particularmente interessante como um recurso que era considerado "Erudito" ou "Intrincado" passou a ser tão popular e apreciado por muitos leitores que não possuem a mínima proficiencia de leitura (compreensão e interpretação de um texto literário). Para confirmar basta ver o número de livros utilizando essa técnica atualmente, e a popularidade de escritores do cânone que usam e abusam desse recurso (como Clarice Lispector). Um Erro Emocional é basicamente composto sobre o fluxo de conciência dos personagens, mas há características marcantes que não o fazem um livro vulgar.

"Cometi um erro emocional", assim inicia-se o livro, em uma situação absurda e gratúita o protagonista do livro (um escritor chamado Paulo Donetti) entra na casa da protagonista (Beatriz, e fan nº1 do escritor) confessando o seu erro (emocional) e sua paixão pela personagem. A partir desse acontecimento, a narrativa se desenvolve entre um copo de vinho e outro (e eu um breve momento um chá).

Mais importante do que o que é dito e o que é feito, é o que não é dito, o que deveria ser feito, o que poderá vir a ser feito e o que aconteceu. A narrativa está incluinda em um processo temporal complexo, onde pretérito perfeito e presente ligam-se intimamente, além da presença do mais-que-perfeito e do futuro do pretérito. Definitivamente, esse não é um livro que se possa definir em algumas poucas palavras que cabem nessa resenha, portanto, acho que encerro aqui, recomendando seriamente a leitura desse livro, tanto por sua qualidade técnica, por sua profundidade psicológica e pela agradabilidade da leitura.

Esse livro é bônus do desafio literário do mês de Julho.

Nota do Elaphar: 9,2

Edição Lida:
TEZZA, Cristovão. Um Erro Emocional. Rio de Janeiro: Record, 2010, 191p.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Tempos Férteis - Beatriz Moreira Lima

O DL desse mês é sobre novos autores, e se há uma pequena lacuna na minha biblioteca, é justamente o de novos escritores nacionais... por sorte a maioria dos livros que tenho de novos autores não foi lida, o que me permitiu uma certa possibilidade de escolher (vou fazer uma leitura geral dessa estante). Li esse livro no primeiro dia do mês, mas como estava com muita preguiça e trabalhos para fazer nesses dias, só agora resenhei... e pretendo fazer uma resenha rápida.

Muito se diz a respeito de criticar obras de autores "amadores" e como essa critica deve ser diferente da de autores "clássicos". No fundo, não concordo que devemos avaliar diferentemente (nesse sentido), e que, se por um lado há escritores de evolução lenta (como o grande Machado), há também escritores precoces (como Álvares de Azevedo) e escritores que escreveram mal durante toda a vida (muitos por aí)...

É muito dificil criticar (no sentido de criar juizos críticos, e não falar mal simplesmente) uma obra que não se aprecia. Também não tenho o talento de José Veríssimo de simplesmente dizer que tal obra e tal escritor é tão ruim que não mereça ser estudado. Mas no fundo, não gostei do livro, e esses são os meus motivos:

- Personagens pobres (recortes de personalidades, visando um espelhamento ou aversão imediatas por parte do leitor)
- Quase auxência de tensão psicológica
- Episódios clichés
- Estrutura convencional
- Previsibilidade narrativa
- Falta de profundidade nos (diversos) temas abordados
- Normalização X Desregulação estilística das vozes
- etc...

Em compensação, alguns pontos positivos podem ser notados, como o fato de todos os personagens serem (diferentemente) preconceituosos, sem muitas vezes se dar conta disso.

A história é simples, pouco elaborada, e na maioria das vezes sem graça em todas as acepções da palavra. Conta a história de uma mulher separada, cheia de problemas dos mais variados tipos, desde financeiros, familiares (problemas com a mãe, que na maioria das vezes é um psicologismo raso), afetivos... a mulher trabalha como vendedora, mas tem outra formação e outro sonho. Vemos vários recortes em sua personalidade e comportamento, na maioria das vezes buscando um espelhamento. Os outros personagens são ainda menos interessantes (principalmente pela linguagem) e variados. Ao final da narrativa a protagonista consegue recuperar o seu verdadeiro amor (Otávio, o ex-marido) e consegue iniciar na realização de seu sonho proficional. Happy Ending.

É muito bizzarro o modo como são retratadas as mulheres no livro (e o livro foi escrito por uma). Os episódios muitas vezes desafiam o bom gosto, mas algumas pequenas coisas podem chamar atenção, como uma parte do "livro no livro", onde a personagem lê um livro raso tendo consciência da "rasidão" do livro e da leitura, reflexão bastante diferente (e não tão magnífica) quanto a propiciada em A Volta do Parafuso. Temos outras coisinhas legais no livro, mas em geral é um livro que não valeria a pena ser lido. Não valeria nem mesmo os 5 R$ que paguei por ele, num queimão de estoque da 7 Letras no JALLA 2010 em Niterói.

Esse livro faz parte do Desafio Literário do mês de Junho. Para conferir a lista do desafio clique aqui.

Nota do Elaphar: 7,0

Edição Lida:
LIMA, Beatriz Moreira. Tempos Férteis. Rio de Janeiro: 7Letras, 2008, 234p.
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