domingo, 24 de abril de 2011

O Fim da Eternidade - Isaac Asimov

Aproveitando o tema da viagem no tempo e seus paradoxos (que não era clichê na época que esse livro foi escrito) Isaac Asimov escreveu O Fim da Eternidade.

Influenciado fortemente por H.G.Wells e com um certo ar de romantismo tardiu, O Fim da Eternidade é uma história de amor em um cenário de ficção científica. Diferente de tudo o que foi escrito anteriormente (e diferente do que é escrito hoje), Asimov aborda com maestria os paradoxos da viagem no tempo:
[...]- Vejamos um caso mais provável e mais fácil de analisar: um homem que, em suas viagens pelo Tempo, encontra a si mesmo...
- Qual é o problema de um homem encontrar a si mesmo?- perguntou Harlan, abruptamente.
[...]
- E as quatro subdivisões nas quais tal ato pode cair. Chamemos de A o homem anterior no fisiotempo, e de B o outro, posterior. Subdivisão um: A e B talvez não se vejam, nem façam
nada que vá afetar um ou outro de maneira significativa. Nesse caso, eles não se encontraram realmente; então, podemos desprezar esse caso como trivial.
- Ou o B, o indivíduo posterior, pode ver o A, mas não ser visto por ele. Aqui, também, não há por que esperar sérias consequências. B, vendo A, o vê numa posição e ocupado em alguma
atividade que ele já conhece. Não há nada de novo envolvido.
- A terceira e a quarta possibilidades são A vê B, mas B não vê A; e A e B se vêem. Em cada possibilidade, a questão séria é que A viu B; o homem, num estágio anterior em sua existência
fisiológica se vê nurn estágio posterior. Observem que ele ficou sabendo que estará vivo na idade aparente de B. Ele sabe que viverá o bastante para praticar aquela ação que testemunhou. Urn homem que conhece seu próprio futuro, em qualquer mínimo detalhe, poderá agir corn base nesse conhecimento e, portan-to, mudar seu futuro. O resultado é que a Realidade deve ser mudada o suficiente para não permitir que A e B se encontrem ou, pelo menos, para evitar que A veja B. Então, como nada que se tornou não-Real numa Realidade pode ser detectado, A nunca encontrou B. Da mesma forma, em cada aparente paradoxo da viagem no Tempo, a Realidade sempre muda para evitar o paradoxo, e chegamos à conclusão de que não há paradoxos nas viagens no Tempo e não pode haver. (p.155-156)
 Esse é apenas um dos muitos paradoxos e ciclicidades da narrativa.

A trama envolve uma organização (a Eternidade) que faz alterações no tempo a fim de garantir a integridade da raça humana (até um certo período, pois há alguns séculos que não estão ao alcance dos Eternos). Os Técnicos são os responsáveis por essas alterações "mínimas" qua alteram toda a história humana. Há um pouco da Teoria do Caos nessa obra, porém com o acréscimo da Inércia Newtoniana, criando uma espécie de Inércia das Alterações Temporais. Uma coisa a se acostumar na leitura desse livro é a mist5ura da escrita literária com a científica (apesar dos erros).

A viajem no tempo e o romance entre Andrew Harlan (Técnico da Eternidade) e Nöys Lambert (uma pessoa normal, denominada pelos Eternos de Tempista) são aparentemente os dois principais temas do livro, mas o tema principal é outro, sutilmente colocado na obra, que é o das viagens espaciais. Não concordo com Asimov quanto a importância das viagens espaciais, mas é muito legal como esse tema é trabalhado no livro, sem ser trabalhado exatamente, pois não há viagens espaciais no livro, e essa falta é responsável pelo fim da raça humana após as "décadas ocultas".

Lastimavelmente, a técnica narrativa de Asimov é péssima no quesito descrição. As descrições do autor não são nem um pouco interessantes, apesar de toda a narrativa o ser. Ao ler o livro cheguei a conclusão de que ele seria bem melhor se fosse um conto (pela estrutura, temática e técnica do autor), e descobri que de fato era, mas recebeu acrescimos posteriores pelo autor a fim de transformá-lo num romancel. O livro provaveolmente seria melhor sem esses acréscimos.

O final interessante, apesar de pouco criativo (e do spoiler desgraçado do título) e a temática muito original e bem desenvolvida. Produção gráfica de boa qualidade e tradução fluente. Essa resenha é um Bõnus do Desafio Literário. Para conferir a lista de Abril Clique aqui. O livro pode ser encontrado facilmente em qualquer livraria, pois a edição da Aleph é recente.

Nota do Elaphar: 9,1

Edição Lida:
ASIMOV, Isaac. O Fim da Eternidade. Trad: Susana Alexandria. São Paulo: Aleph, 2007, 255p.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

O Restaurante no fim do Universo - Douglas Adams

Continuando a trilogia de quatro (que por mero acaso são cinco) do Guia dos Mochileiros da Galáxia, o livro seguinte é O Restaurante no Fim do Universo.

Depois da fuga de Magrathea, os "heróis" são atacados e acabam passando por diversas situações "pouco prováveis", o que já é um grande chavão da série. O ápice da história é a chegada dos "heróis" até o Restaurante no Fim do Universo, um restaurante que fica no exato momento do fim de todo o universo, e parte onde contém a maior quantidade de iron ia por lauda. Outro ponto importante é a separação da equipe em duas (Arthur e Ford de um lado e Trillian e Zaphod de outro), onde a primeira equipe se encontra na terra primitiva e a segunda encontra-se com o homem que rege o universo.

Algumas considerações: o livro ainda mantém sua crítica social do primeiro da série, porém essa crítica fica menos frequente e menos violenta (em contrapartida, mais interessante), os personagens estão bem mais coerentes (exceto Ford) e o nonsense é usado com maior maestria nesse volume da série, além do livro está bem melhor escrito.

Logo ao abrir o livro vejo uma introdução bastante interessante:
"Existe uma teoria que diz que, se um dia alguem descobrir exatamente para que serve o universo e porque ele está aqui, ele desaparecerá instantaneamente e será substituído por algo ainda mais estranho e inexplicável * Existe uma segunda teoria que diz que isso já aconteceu."
 Pode parecer trivial, mas percebemos que Adams começa a dialogar com a tradição filosófico-literária, o que aumenta ainda mais a minha ideia de que ele começou a aprender a escrever a partir desse livro. Essas duas teorias na verdade são uma recriação para o problema básico do surgimento do universo pré-big bang. Em uma primeira teoria o big-bang aconteceu e as moléculas se distanciarão até o infinito, onde será o fim. Uma segunda teoria representa uma ciclicidade infinita, e o big-bang já aconteceu infinitas vezes no tempo passado e infinitas no futuro. Juntando-se a isso uma perspectiva "teológica" desprovida de "deus" de finalidade e descoberta, temos uma paródia de ambas as crenças de forma umorada e filosófica. Para a melhor compreensão de que crença "teológica" me refiro, é muito interessante consultar Os Nove Trilhões de Nomes de Deus de Arthur Clarkel.

Fora isso percebemos vários diálogos, geralmente irônicos, envolvendo os livros sagrados cristãos (e dogmas religiosos específicos) e uma parcela da produção editorial humana; acredito também que o autor leu Aristóteles, pois algumas construções argumentativas me lembram a lógica aristotélica. Como avisei anteriormente porém, as criticas agora não são mais ataques diretos, mas uma fina e humorada ironia.

Outra grande vantagem desse livro sobre o primeiro: O Restaurante no Fim do Universo é mais engraçado. Não é tão engraçado a ponto de me fazer gargalhar, mas supera e muito o anterior. A produção gráfica do livro mantém a qualidade padrão da Sextante, apesar da capa ser de péssimo gosto, o que no final das contas não distoa do livro. Por grande bom senso, a editora não mais deixou aquele horrível "15 milhões de cópias vendidas no mundo", que além de não significar nada não é nem um pouco impressionante em questão de números.

A tradução é um ponto importantíssimo (apesar de ter cotejado apenas 5 parágrafos como amostragem) e merece um destaque especial. O trabalho de Carlos Irineu Costa merece um grande destaque pela tradução, que não é tão fácil quanto pode parecer. Há muitas referências culturais (reas e fictícias), muito coloquialismo, mudanças de registro e construções esquisitas, que foram, pelo pouco que vi, muito bem realizadas em português pelo tradutor. O texto traduzido é ligeiramente mais coloquial do que o em inglês, mas isso não compromete a leitura.

Por fim, chego a conclusão de que houve na escrita de Douglas Adams um certo progresso em relação ao Guia do Mochileiro das Galáxias, o que PODE indicar que o próximo livro seja melhor (ou não). Apesar desses indícios, não vou continuar a série, pois meu interesse nela se findou. Essa resenha faz parte do Desafio Literário. Para conferir a minha lista do desafio clique aqui. Para conferir a lista de Abril Clique aqui. O livro pode ser encontrado facilmente em qualquer livraria, afinal, é um best Seller.

Nota do Elaphar: 8,4

Edição Lida:
ADAMS, Douglas. O Restaurante no Fim do Universo. Trad: Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Sextante, 2009, 229p. (O Guia do Mochileiro das Galáxias; v.2) 

sábado, 16 de abril de 2011

A Mulher Desiludida - Simone de Beauvoir

Estava devendo essa resenha desde o final de fevereiro, mas acabei não resenhando. Simone de Beauvoir é uma grande filósofa e escritora francesa, amiga de Sartre e Camus. Sua biografia é cheia de detalhes e anedotas peculiares, mas não vamos nos deter nelas. Sua obra mais conhecida é por certo "O Segundo Sexo", marco histórico do movimento feminista. Sua obra literária é predominantemente auto biográfica (Memórias de uma moça bem-comportada, A força das coisas, uma morte muito doce e Tudo é dito e feito, Balanço Final), e seus textos de não-ficção também são muito apreciados (como A Velhice e A Cerimônia de Adeus). Seus romances são considerados obras primas, em especial Os Mandarins. Simone é publicada no Brasil pela editora Nova Fronteira.

A Mulher Desiludida é um livro que contém 3 novelas curtas: A Idade da Discrição, Monólogo e A  Mulher Desiludida. Todas as novelas são narradas em 1ª pessoa, sendo que A Idade da Discrição e A Mulher Desiludida são escritas sob a forma de um diário, enquanto Monólogo é um monólogo (como o próprio nome sugere).

É impressionante como Simone de Beauvoir nessas 3 narrativas consegue penetrar no psicológico de suas personagens-protagonistas. Além de Simone, só conheço um escritor que consegue compreender em profundidade todo o psicológico de um personagem tão distante do próprio autor (esse nome é Stefan Zweig, um dia resenho um livro dele).

As 3 novelas possuem muito em comum; todas são protagonizadas por mulheres, que são dependentes econômico-afetivamente dos homens e veem sua vida desmoronar. Monólogo distíngue-se dos outros por sua narrativa (sem pontuação, o que sugere uma explosão sentimental) e seu "tom". Há um pouco de comicidade em Monólogo, e a ambivalência da personagem gera uma ambivalência em como a analisamos (não sei se tenho compaixão, rio ou se digo "bem feito" de seu estado).

A Idade da Discrição mostra com muito mais força o Gênio de Beauvoir. É uma novela curta, monótona mas ainda assim magnífica. Beauvoir é um pouco cruel com o envelhecimento, e aqui o envelhecimento é tratado de forma confusa e polissignificativa. Não tem como não ficar cativado com sua protagonista, que pode se assemelhar a uma mulher comum.

Em A Mulher Desiludida, a problemática é ainda mais profunda, e a protagonista que possuia as filhas perfeitas (e felizes cada qual no seu modo de vida) e o casamento dos sonhos vê sua vida ruir. Seu marido arruma uma amante e ela se vê aceitando e se comportando diferentemente, ao nível que a amante conquista cada vez mais espaço de sua vida. Há uma guerra silenciosa contra o tempo de Maurice (marido). Aos poucos a protagonista vai se dando conta de que sua vida nunca foi o que ela pensava. Descobre também que, apesar de totalmente distintas, ambas as filhas não atingiram a felicidade em seu estilo de vida. Uma das filhas, espelhou-se na mãe e a outra negou o estilo de vida da mãe e da irmã completamente.

A Mulher Desiludida conta 3 tragédias familiares e pessoais distintas, mas possuem muito em comum entre elas e entre as tragédias familiares reais de muitas pessoas. A voz das personagens é brilhante, manejadas com maestria pela autora. O psicológico nas obras é tão bem construido que na maioria das vezes esquecemos que estamos lendo ficção e acreditamos estar dentro das mentes. As personagens de Beauvoir parecem mais reais do que as pessoas reais, parecem mais reais do que nós mesmos.

Por fim, a edição da Nova Fronteira é de ótima qualidade. Pepel pólem, capa muito bonita (apesar de não ter orelhas), diagramação excelente e grandes traduções de Helena Silveira (A Idade da Discrição e A Mulher Desiludida) e Maryan Barbosa (Monólogo). O texto é fluido e decerto esse é um dos melhores livros do ano. A Idade da Disrcição e A Mulher Desiludida são nota 10, enquanto Monólogo, ao meu ver, é ligeiramente inferior.

Nota do Elaphar: 9,8

Edição Lida:
BEAUVOIR, Simone [Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de]. A Mulher Desiludida. Trad: Helena Silveira e Maryan A. Bon Barbosa. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010, 254p. (Coleção Fronteira)

terça-feira, 12 de abril de 2011

O Homem Bicentenário - Isaac Asimov

Assimov é um escritor americano que simplesmente é considerado uma pequena divindade da Sci-fi, junto de Arthur Clark. Escreveu mais de 500 livros, dentre eles romances, contos, novelas, textos científicos e etc... O Homem Bicentenário é (provavelmente) sua obra mais conhecida, e que virou um filme bem famoso. Outras obras famosas do autor são: Eu Robô, Trilogia da Fundação, O Cair da Noite, Serie Robôs e O Fim da Eternidade.

Geralmente, quando falamos sobre um livro que virou filme espera-se uma comparação entre ambos. Procurarei evitar por dois motivos: 1º Minha sensibilidade cinematográfica não é muito boa, e 2º o filme possui pouquíssima relação com o livro. Ambos são boas obras, mas diferem-se bastante entre si.

O Homem Bicentenário foi escrito para figurar em uma antologia (referente ao bicentenário de independência dos EUA)k, mas duas coisas saíram erradas: o texto ficou duas vezes maior do que deveria e o projeto da antologia não avançou. Em contrapartida, ganhamos um dos melhores contos de Sci-fi.

Seguindo o mote das 3 leis robóticas (que não sei se surgiram em Círculo Vicioso ou Eu Robô) inicia-se o livro. Conhecemos então Andrew, um robô diferente. A família (os donos de Andrew) é composta pela mãe, o pai, e duas filhas (a mais nova o robô chama de filhinha até sua morte depois dos 80 anos). Todos gostam de Andrew, que é um verdadeiro artista e recebe bastante dinheiro, que usa para comprar sua alforria, o que deixa o pai furioso.

Após a morte do pai, Andrew passa a andar vestido, o que causa indignação geral. Acontece um terrível episódio, onde dois jovens exploram Andrew (lembre-se, as 3 leis), e faz o filho de "filhinha", que é advogado, iniciar uma movimentação judicial para proteger os robôs. Também inicia-se uma briga para que a fábrica de robôs opere modificações em Andrew, modificações essas que serão feitas por todo o livro.

Andrew escreve um BestSeller sobre robôs, e depois pesquisa ciência, criando próteses no sentido de ajudar a raça humana e se "humanizar". A luta final de Andrew é para ser oficialmente considerado "humano", que acaba conseguindo apenas com sua morte, pois a mortalidade era, em seu ponto de vista, a única diferença restante entre ele e os humanos.

O livro, apesar de seu tamanho curto é carregado de percepções sagazes do autor. O medo humano em relação aos robôs é bem colocado e explorado, além de algumas questões sociais, como do episódio dos vândalos ou a primeira aparição do advogado da família, mas principalmente nas modificações internas que ocorrem na fábrica de Robôs. Andrew não é humano, e isso é fácil de perceber no livro, pois sua personalidade não é humana, nem mesmo comparando-a com outra mais aparentada como a de Meursault (de O Estrangeiro), mas também não podemos classificar Andrew como um robô (segundo as propostas do livro). Andrew não possui o seu lugar, é um exilado, um estrangeiro.

Por fim, ao livro segue-se o conto Círculo Vicioso, que também é uma história sobre robôs (mais tradicionais), porém, Círculo Vicioso passa-se em uma exploração no planeta mercúrio. É uma excelente história, mas não é profunda psicologicamente e socialmente como O Homem Bicentenário, embora também seja escrita com maestria e coerentemente. Produção da L&PM como sempre de boa qualidade, mesmo para os livros pequenos e baratos (esse custava 5,50R$ na época). Tradução em bom vernáculo. Portanto, um excelente livro para comprar e iniciar a leitura no universo assimoveano.

Essa resenha faz parte do Desafio Literário. Para conferir a minha lista do desafio clique aqui. Para conferir a lista de Abril Clique aqui. O livro pode ser encontrado facilmente em qualquer livraria, afinal, é um best Seller.

Nota do Elaphar: 9,0

Edição Lida:
ASSIMOV, Isaac. O Homem Bicentenário. Trad: Milton Persson. Porto Alegre: L&PM, 1997, 120p. (Coleção L&PM Pocket; v.57)

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O Guia do Mochileiro das Galáxias - Douglas Adams

Partindo do título do livro, a obra começa falando sobre o que é "O Guia do Mochileiro das Galáxias". No universo ficcional, o Guia é o maior Best Seller da galáxia, basicamente uma enciclopédia para poder viajar pelos quatro cantos da galáxia gastando pouco, isso supondo que a galáxia tenha cantos.

O livro conta a humorada história de Arthur Dent após a destruição do planeta terra. Arthur acompanha o alienígena Ford Perfect em uma jornada pelo espaço, e devido uma série de acontecimentos "muito improváveis" acabam se juntando ao presidente da galáxia, sua assistente e um robô maníaco-depressivo.

Primeiro vamos falar dos personages. Arthur é um personagem padrão, e se comporta de forma muito estranha, mas lembre-se que ele é um "estrangeiro", pois nunca viajou pelo universo. Ford Perfect é simplesmente um dos personagens mais mal escritos que já vi. O livro tenta nos mostrar um Ford Perfect estável, com um comportamento X, mas a narração mostra que o comportamento de FP não é X, mas uma mistura de Y e Z. Suas obsevações sobre os humanos são extremamente falhas, e não se aplicam aos alemães (tá legal, a piada foi péssima, admito). O padrão de comportamento que o livro tenta nos dá de Ford é falho, e mais falho é seu comportamento na diegese.

Entretanto, os outros personagens são bem melhor escritos. Zaphod Beeblebrox é um idiota, que de tão idiota e impulsivo chega a ser genial. Sua assistente é apagada, mas consistente. Marvin é um robô carismático entre os leitores (é o personagem favorito da maioria dos leitores, mas não meu), e possui uma inconstância constante, por isso também é um personagem bem escrito.

O Guia do Mochileiro das Galáxias não é um livro de humor tão idiota como pode parecer à primeira vista (mas também não é tão genial quanto nos sugere o prefácio). A obra é uma ácida critica contra a burocracia e a ordem social. Apesar da critica, o prefaciador empolgou-se demais ao afirmar a genialidade, filosofia e cientificidade da obra. Há uma série de falhas grotescas (desconsiderando o humor e fluência) no plano Científico, Linguístico e Filosófico. Acho um extremo exagero relacionar o "gerador de improbabilidade finita" com a "abordagem de caminho integral" de Feynman. Além disso aparentemente Douglas Adams tem um problema (bastante comum diga-se de passagem) absurdo com o conceito filosófico de Lógica. Apesar de tudo, a critica da obra é bastante inteligente, principalmente no que se refere à habitos desnecessários, a burocracia e as classes oprimidas.

O livro é bem humorado, produção gráfica de alta qualidade (miolo em pólem) e uma tradução escrita em bom vernáculo. Claro, possui um "15 milhões de exemplares vendidos no mundo" bem no topo da capa, o que pra mim não significa nada. Não sei da qualidade da tradução como "tradução", pois nada nem ninguem vai me obrigar a ler esse livro em inglês.

Essa resenha faz parte do Desafio Literário. Para conferir a minha lista do desafio clique aqui. Para conferir a lista de Abril Clique aqui. O livro pode ser encontrado facilmente em qualquer livraria, afinal, é um best Seller.

Nota do Elaphar: 8,3

Edição Lida:
ADAMS, Douglas. O Guia do Mochileiro das Galáxias. Trad: Paulo Fernando Henriques Britto & Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Sextante, 2009, 204p. (O Guia do Mochileiro das Galáxias; v.1)

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Sonetos - William Shakespeare (Trad: Jerónimo de Aquino)

Mais uma vez resenho os Sonetos de Shakespeare, agora em tradução de Jerónimo de Aquino. Alguns devem se perguntar o porquê de resenhar a mesma obra várias vezes, e as respostas são simples: 1º sou fã dos sonetos de Shakespeare, 2º cada tradução brasileira de cada poesia é uma obra de arte original e distinta, 3º as traduções brasileiras são muito diferentes entre si, e 4º pretendo resenhar TODAS as traduções dos Sonetos em vernáculo, o que inclui as traduções de Ivo Barroso, Tereza Christina, Jorge Wanderley, Vasco Graça Moura, Oscar Mendes, Milton Lins, Bárbara Heliodora e Enio Ramalho, além dos já resenhados Péricles Eugênio e Faça Você Mesmo. Há algumas traduções que ainda não li. mas com certeza será prazeiroso.

Durante algum tempo fiquei em dúvida se resenharia ou não a tradução de Jerónimo de Aquino, devido minha edição ser da famigerada Martin Claret. Muitos podem não conhecer o passado sombrio da editora em se tratando de traduções, mas quando o nome é Martin Claret a prudência nunca é demais. Porém descobri que a edição é legítima, diferente das outras traduções dos sonetos. Na verdade, os Sonetos traduzidos por Aquino pertenciam à Obra Completa de William Shakespeare pela editora Melhoramentos, e era uma edição Bilíngue.

Diferente das outras traduções resenhadas, Jerónimo de Aquino não corre o risco de criticarem a escolha das poesias, pois traduziu todos os 154 sonetos mais o Queixas de uma amorosa (A lover's complaint), que é um longo poema lírico. Não gosto do "Queixas de uma amorosa", mas como não é um soneto, não vou nem ao menos me dignar a falar dele.

Apesar de traduzir todos os sonetos, também diferentemente das outras resenhas, a edição da Martin Claret é a única que não é bilíngue (apesar da edição da Melhoramentos ser), o que é um pouco incômodo. A edição não é a oitava maravilha. É uma edição bem padrão, com folhas brancas e o número de páginas enorme em marca d'água no pé da página, mas não atrapalha a leitura dos Sonetos, atrapalha apenas os dados biográficos e o Queixas...

Falando a escolha tradutória de Jerónimo de Aquino, o tradutor optou pelo dodecassílabo para traduzir o pentâmetro jambico (que não possui equivalência no português) ao invés do tradicional decassílabo. Os dodecassílabos de Aquino possuem uma censura no meio, geralmente com uma ou duas sílabas tônicas entre os hemisférios, o que caracteriza seu verso como alexandrino. Muitos criticam essa forma, pois deixa os versos "muito longos", entretanto, devido o fato de que as pelávras em Inglês costumam conter menos sílabas que as portuguesas, essa escolha é justificável. Entretanto, a escolha é mais difícil do que pode parecer. Por um lado, no dodecassílabo o número de omissões é bem menor que no decassílabo, entretanto, por contrapartida, o número de "acréscimos" é bem maior.

Já falei anteriormente que, para mim, a tradução poética deve-se prioritariamente criar um bom poema na língua de destino, depois, e por último, vêm uma suposta fidelidade com o original. Entretanto, em casos extremos o cotejo com o texto inglês se faz crucial. Comparando o soneto I percebemos apenas duas omissões, uma delas leve (by time) e outra gravíssima (todo o verso 6 e 7), entretanto, há uma quantidade absurda de acréscimos, incluindo dois versos inteiros. Alguns casos são mais graves, como o Soneto LXVI, que possui o sentido TODO alterado, ou o Soneto CXXIX, que apesar de ser um bom poema, distoa muito da forma e sentido do poema original.

Apesar das deficiências, há belas poesias na tradução de Aquino. Foi a primeira edição dos Sonetos que li, e gostei muito de várias poesias que hoje são algumas das minhas preferidas, entretanto algumas poesias, como é de se esperar, não são tão cativantes.

Aparentemente, a tradução de Jerónimo de Aquino é uma tradução extremamente comercial, e não foi feita com paixão. Ao traduzir todos os 154 sonetos, Aquino cometeu erros, acrescentou muitas idéias (algumas para produzir rimas) entre outras falhas, e aparentemente traduziu muitos sonetos às pressas. De um modo ou de outro, eis aqui um soneto do livro, comparando com as versões das resenhas anteriores:
Quando penso que tudo e tudo quanto cresce
Só pode ser perfeito um rápido momento;
Que o mundo só ilusões, teatral, nos oferece,
Das quais o astral poder é secreto fomento;
Quando na evolução do homem, como da planta,
Vejo avanço e parada, à ação do mesmo ambiente:
Agora a vida exulta, agora se quebranta,
E até o maior primor termina obscuramente...
O conceito que formo, então, dessa ocorrência
Se ajusta em vós, em cuja excelsa juventude
O Tempo destruidor se alia à Decadência,
Para que em feia noite a vida vos transmude.
    E, em guerra com o Tempo, amando-vos, decerto,
    O que ele de vós tira eu novamente enxerto.
                      (Soneto nº 15 por Jerónimo de Aquino, p.41)
Quando penso em tudo que cresce,
Perfeito por não mais que um instante
E no palco apenas sombra aparece
Do que estrelas velam naquele quadrante
Quando penso nos homens e nas plantas
Ceifados, nutridos, por um só firmamento
Desabrocham e no apogeu caem às tantas,
Anulando da memória o bravo momento
Ao pensar em vida tão inconstante,
Fica ainda mais jovem diante de mim
Perda do tempo em confronto cortante
A transformar seu dia na noite do fim
    Por amor, a seu favor, tudo farei nessa guerra
    O que o tempo tirar, lhe retornarei sem espera
                      (Soneto nº 15 por Isa Pessôa, p.83)
Se tudo quanto cresce (eu fico a meditar)
Apenas um momento alcança a perfeição;
Se os astros vêm, com influência oculta, comentar
As meras peças que no mundo têm ação;
Se os homens sei que como as plantas arborescem
E o céu que lhe dá aplauso é o céu que os vem vaiar:
Gloriam-se de seiva e no ápice decrescem,
Para afinal êsse auge esplêndido olvidar;
Então, pensando nessa instável permanência,
Mais jovem eu te vejo, amor, à minha frente,
Embora queira o Tempo, ouvindo a Decadência,
Mudar teu jovem dia em noite desluzente.
    E, por amor de ti, em guerra o Tempo enfrento;
    Quando êle em ti suprime, é quanto te acrescento.
                      (Soneto nº 15 por Péricles Eugênio)

Nota do Elaphar: 8,0

Edição Lida:
SHAKESPEARE, William. Sonetos. Trad: Jerónimo de Aquino. São Paulo: Martin Claret, 2006, 207p.(Coleção Obra Prima de Cada Autor, 249)

domingo, 3 de abril de 2011

Do Jeito Delas: vozes femininas de língua inglesa - Trad: Jorge Wanderley

Essa antologia foi fundada a partir de três afinidades: as escritoras são mulheres, de língua inglesa e foram traduzidas por Jorge Wanderley. Para quem não conhece, Jorge Wanderley foi um grande tradutor brasileiro (falecido em 1999), que traduziu os 154 Sonetos de Shakespeare, o Inferno de Dante, o Corvo de Poe e várias antologias de poetas anglófonos, além de sua obra como poeta. Em suas antologias, não costumava diferenciar homens e mulheres, entretanto, esta antologia póstuma contém apenas mulheres.

Mais do que simples questões de gênero puramente ditas, há um fio que conduz a poesia dessas mulheres, que é o que o grande Camus chamaria de Absurdo; essas mulheres são extremamente consientes do absurdo da existência.

O que me chamou a atenção nesse volume foi a quantidade de nomes desconhecidos. Exceto Plath, Sexton e Dickson (além de já ter ouvido Bishop, sem nunca ler nada de sua obra), nenhum outro nome me soava meramente familiar. São ao todo 12 poetas (18 poesias), com suas poesias muito bem traduzidas e 3 excelentes ensaios sobre a biografia e poética das escritoras. Apesar de poucas poesias, os maravilhosos ensaios valem a pena.

Falando das poesias: a maioria delas possui um nível de obscuridade que as torna impenetrável.

Sylvia Plath é de longe (junto de Dickinson) a mais conhecida, e sua poética é bastante peculiar. Colher Amoras [Blackberrying] e Outono de Rã [Frog Autumm] são poesias tão diferentes entre si que dariam todo um ensaio. Se você não conhece Plath, deve conhecê-la. Já Anne Sexton, que conhecia mas não apreciava, me surpreendeu com o A Mulher do Fazendeiro [The Farmer's Wife], que é simplesmente a melhor poesia do livro (apesar de ser também a tradução mais "fraca"). Vou passar a ler a poesia de Sexton.

Emiy Dickinson está em extrema moda nos últimos dias, possuindo fans incondicionais. Recentemente ganhou uma grande coleção traduzida por José Lira. Geralmente conhecida como "poeta para poetas", seu estilo é inovador em todos os sentidos. Seus poemas curtos e concisos ficam entre o compreensível e o incompreensível. Mas não se engane, traduzir Dickinson não é uma tarefa fácil.

Quanto às outras poetas, poucas chamam atenção, e entre elas inclui-se Marianne Moore (com Poesia e Que são os Anos), Louise Bogan (com fragmentos de Segundo o Persa) e Denise Levertov (com O Segredo). As outras traduções são boas, mas as poesias pouco me cativaram, exceto as já citadas.

Como falei, os ensaios são excelentes, nos mostrando o lado biográfico e a obra poetica de todas as escritoras. A produção gráfica da 7Letras é outra obra de arte a parte. Capa, orelha, lombada, tudo excelente, em ótimo papel pólem de 90g/m².

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Desafio Literário 2011 - Abril: Ficção Científica

"As obras de ficção-científica são aquelas que retratam, de modo real ou imaginário, o impacto da ciência e da tecnologia sobre a vida das pessoas, em particular, e da sociedade, em geral. No Brasil, este gênero literário não é muito popular, por isso, neste mês, que tal experimentar o gosto pelo tema?"



Quarto mês do Desafio Literário, e pela primeira vez vou quebrar a tradição. Não vou ler bônus (com exceção TALVEZ de O Fim da Eternidade de Assimov), nem comentar muito sobre o tema, por vários motivos: Meu mês está muito abarrotado, quase não conheço sobre o assunto e minha biblioteca de Sci-Fi é ínfima.


O que posso falar sobre a ficção científica é uma coisa que todos sabem: Há um monopólio norte-americano no gênero. Os grandes escritores do gênero lá se encontram, e os poucos escritores de qualidade acabam não saindo de seu país de origem. Um exemplo é o francês Maurice Renard.


Minhas escolhas foram (a priori)20 Mil Léguas Submarinas de Verne, que não consegui comprar, e 2º e 3º volumes do Guia dos Mochileiros das Galáxias, mas, como o 1º volume desapareceu no mês de Janeiro (infanto-juvenil) e só agora reapareceu, serão lidos os dois primeiros livros da série, mais O Homem Bicentenário do grande Assimov. Se possível, lerei O Fim da Eternidade, mas não prometo nada.


Titular: 20 Mil Léguas Submarinas - Júlio Verne (Comprar).
Titular: O Homem Bicentenário - Isaac Asimov
1º Reserva: O Restaurante no Fim do Universo (GMG V.2) - Douglas Adams.
2º Reserva: A Vida, o Universo e Tudo Mais (GMG V.3) - Douglas Adams (Comprar).
2º Reserva: O Guia do Mochileiro das Galáxias (GMG V.1) - Douglas Adams


Bônus:
Bônus 1: O Fim da Eternidade - Isaac Asimov
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