sábado, 29 de janeiro de 2011

Graham Greene - O Terceiro Homem

O Terceiro Homem não é exatamente um livro, mas sim um roteiro para um filme homônimo. Segundo o escritor, Carol Reed chamou Greene para fazer um roteiro, e o autor escreveu primeiro em formato de livro, e acompanhou todos os processos de adaptação do texto literário para o filme. Esse filme foi um sucesso na época (1949), e foi remasterizado recentemente (2000). Não assisti o filme, mas deve serexcelente, não por ter ganhado um oscar, mas por ter ganhado o Festival de Cannes, e esse é um prêmio que, em geral, não decepciona.

Mas não viemos falar do filme e sim do livro.A primeira vantagem é quanto à produção da L&PM Editores. Esse livro em formato de bolso está (aparentemente) em ótima tradução e revisão; e o melhor de todos, num preço ótimo (8 R$ na Saraiva). A capa não foi muito agradável aos meus olhos, mas a lombada combina muito bem com meus outros livros da L&PM Pocket Plus (como Zweig, Fitzgerald, Dickson, Rilke e etc...).

A história é simples e movimentada, afinal, não se espera menos de um filme. O cenário é Viena dividida depois da Grande Depressão, onde todas as pessoas cometem atitudes corruptas, algumas mais inocentes e outras menos. O tipo de crime que a narrativa massacra é o da venda e adulteramento da penicilina, fato real que destruiu muitas vidas vienenses. O narrador é um policial que narra a partir do dia que conheceu Rollo Martins (no filme esse personagem possui outro nome), o protagonista do filme.

A história começa com a morte de Harry Lime, amigo de Rollo e que o leva para Viena. A partir desse acontecimento, Rollo se nega a aceitar que a morte do amigo é um acidente, e decide investigar o caso por caso por conta própria. Por conta de um problema com nome, Rollo acaba se fazendo passar por um escritor famoso chamado Benjamin Dexter (Rollo também é um escritor, mas ordinário, que assina como B. Dexter), embora faça isso sem a intenção e acaba causando algumas confusões na narrativa.
Alerta!!! Esse texto pode conter spoilers como o fato de que Lime é um pilantra que forjou a própria morte para fugir da polícia e é morto (de verdade) pelo seu amigo Rollo.
Durante a investigação, Rollo encontra coisas muito extranhas e conflitantes, até que ele descobre que Harry não morreu. Com a ajuda da polícia, Martins cria uma emboscada para Lime e acaba matando-o pessoalmente. Como eu disse, é uma história muito ágil, e até certo ponto interessante (levando em consideração que não sou muito fã do gênero, até gostei). Há uma história paralela de romance e uma forte presença política e histórica no livro. Há também (segundo minha análise) uma leve pítada de crítica contra a teoria literária da época, voltada apenas para o Cânone e que considerava a "literatura de entretenimento" como um lixo. De resto, é uma novela bem curta e ágil, que dá para ser lida de uma só vez no ônibus ou no intervalo do almoço.

Nota do Elaphar: 8,6

Edição Lida:
GREENE, Graham. O Terceiro Homem. Trad: Antônio Celso Nogueira. Porto Alegre: L&PM, 2007, 128p. (L&PM Pocket Plus, 590)

Alfredo Garcia - Contwitters [Lançamento]

No dia 1º de Fevereiro de 2011, o escritor paraense Alfredo Garcia lançará seu novo livro em formato de e-book. O livro terá como título Contwitters (referência ao Twitter), e reunirá 50 minicontos escritos em 50 dias. O e-book será disponibilizado gratuitamente na página paginanua.wordpress.com .

Já falei sobre Alfredo Garcia aqui, e já falei o quanto esse escritor possui habilidade para mudar de técnica de escrita.

Para quem não sabe, o miniconto (microconto ou nanoconto) é um gênero de escrita que se caracteriza pela absurda concisão. O miniconto é para o conto tradicional o que o Haikai é para a poesia épica. Embora a maioria das pessoas acharem o contrário, quanto menor o conto, mais difícil é criá-lo, pois deve-se manter a qualidade narrativa e deve-se possuir também alta poeticidade para que o leitor preencha os vácuos da narrativa. Há muitos mestres na escrita de contos pequenos, dentre eles posso citar os paraenses Haroldo Maranhão e Maria Lúcia Medeiros; os brasileiros Ricardo Ramos e Dalton Trevisan. A maioria desses contos pequenos se assemelham a poesia e crônica, mas pela presença de um núcleo dramático fechado acabam por possuir ainda características de conto.

Agora, se querem a minha opinião sincera sobre os microcontos, aqui vai ela. Em primeiro lugar, acho extremamente errado limitar a construção de um texto a 150 caracteres. Não que ache impossível criar um bom conto sob esse aspécto (Hemingway conseguiu criar um bom conto com menos de 50 letras), mas restringir a criação a isso é que é o maior problema, se o conto sair naturalmente nesse tamanho, não vejo problema, mas propositalmente criar 50 contos em velocidade récorde nesse formato considero meio abusivo. De qualquer forma, a escrita constringida não é o maior problema se a obra ficar boa, afinal, existem mestres em limitar a própria escrita (como Perec).

Mas aí vem o maiorproblema, e a segunda coisa que não concordo com esse gênero. Até hoje, só vi um único microconto que me agradou (que foi o do Hemingway que citei acima). Já li vários textos desse gênero, mas não me agradou, da mesma forma que não me agrada a paixão dos concretistas em poemas de uma única palavra. E por fim, não chego nem a considerar os microcontos como gênero de conto, mas sim como um subgênero da poesia minimalista.

De qualquer forma, vou dar uma lida nesse livro assim que for lançado, afinal, não posso usar minhas experiências anteriores para definir um livro, e, de qualquer modo, acho extremamente interessante a idéia de lançamento gratúito por e-book. Aproveitar os recursos da tecnologia para a divulgação de um trabalho literário é sempre muito interessante.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

F. Scott Fitzgerald - O Grande Gatsby

Esse livro foi selecionado (e lido) para o Desafio Literário do mês de Janeiro, com a temática: Literatura Infanto Juvenil. Fitzgerald é também a celebridade do ano (junto com Benjamin e Klee) que entrou em domínio público, e, portanto, sua obra está disponível no projeto Gutenberg. Antes que me matem e me apedrejem afirmando que "O Grande Gatsby" não é infanto-juvenil, deixem-me explicar o motivo de minha escolha.

Primeiro, devemos compreender o termo "Literatura Infanto-Juvenil" (doravante LIJ). Ao fazer um pouco de pesquisa, percebemos que é uma construção recente (tá legal, não tão recente assim, mas remonta o romantismo), e que até um certo ponto da história literária, não se diferenciava a literatura para crianças, jovens e adutos, ou para homens e mulheres (a construção da literatura de "gênero" é ainda mais recente).

Outro ponto que devemos ter em vista, é que a LIJ também se define históricamente. Por exemplo, os Brüder Grimm ao construirem seu Kinder und Hausmärchen, não se preocuparam em criar uma literatura para crianças, mas sim compilar as narrativas orais alemãs com a finalidade de definir uma identidade (desculpe, sei que o exemplo dos Grimm já está ficando batido). Outros textos, escritos para crianças (portanto, LIJ de origem), perderam sua propriedade e se transformaram em livros para adultos, dentre eles Alice no País das Maravilhas, que é lido hoje como um livro adulto, e talvez até de difícil compreensão para uma criança (pelo menos em língua portuguesa). Há livros também que ficam em um meio termo, como O Hobbit de Tolkien, O barão nas Árvores de Calvino, e as A Volta ao Mundo em 80 Dias de Verne. É importante não confundir a temática do fantástico e do maravilhoso (sim, são coisas diferentes) com LIJ, pois há obras de LIJ sem a temática do fantástico, embora não atraia tanto, e há obras se utilizando do fantástico e maravilhoso que não são LIJ.

Há ainda uma outra tendência, quando um crítico ou educador acha apropriado considerar um texto "de peso" como adequado para crianças. Há até uma seleção de poesias clássicas da literatura portuguesa compiladas em um livro infanto-juvenil (se não me engano, editado pela Companhia das Letras), onde encontra-se até mesmo um poema de Machado de Assis e Bilac... isso mesmo! Bilac. Bloom também cria uma seleção de "Textos para crianças inteligentes de todas as idades" (ou algo assim) lançado no Brasil pela objetiva, e onde há apenas textos clássicos. Notem, que nesses casos, não há adaptação (é diferente de obras adaptadas para crianças, como da coleção Literatura em Minha Casa), o que acontece é uma diferença nos pontos de vista do que é "apropriado" para crianças ou não. Lembrando que a LIJ é dividida em duas partes (uma infantil e a outra juvenil).

Mas e onde entra "O Grande Gatsby" nisso? Simples. O romance foi escrito no fim da década de10 do século XX, após a primeira guerra mundial. O mundo se afogava em uma crise (que ficou ainda mais grave na década de 30), e as pessoas estavam se tornando vazias, as relações fúteis e etc... os jovens dessa época foram nomeados de "a geração perdida". Cada época possui suas fórmulas, e se hoje, a fórmula para vender para os jovens é socar monstros como zumbis e vampiros ou criar histórias de amor pouco ortodoxas, naquela época era mostrar a sociedade burguesa jovem ou jovem-adulta mergulhar em um vazio existencial. Essa era a "fórmula" da época, e Fitzgerald escreveu seu livro em cima deste motivo, e portanto, guiou sua voz para os jovens (de 16-20 anos), e portanto, fez uma literatura Juvenil, ramo da LIJ. Eu procuro, nas minhas escolhas para o desafio, colocar o que há de mais variado no tema tratado (ou melhor, o que acho que é, afinal, não leio os livros antes). Ao escolher Memórias do Quintal, O Castelo nos Pirineus e O Guia dos Mochileiros da Galáxia, escolhi fazer um passeio pela faixa etária (criança, pré-adolescência e adolescência), e um passeio temático (histórias quotidianas, estranhas e reflexivas, e fantásticas e sem propósito intelectual). Claro, não saí exatamente do que planejei, pois, O Castelo nos Pirineus não foi o que esperava, e O Guia foi extraviado. Com Fitzgerald acho que posso prosseguir meu objetivo com sucesso. Agora chega de me explicar e vamos para a parte mais divertida da obra.

Se por um lado eu falei que "O Grande Gatsby" seguia uma "fórmula" da época, porque o livro é considerado uma obra prima, já que a história mostra que obras que seguem fórmulas não vão para a história da literatura? (Tá legal, algumas vão, como Prosopopéia de Bento Teixeira ou O Guarani de José de Alencar) A esplicação é apenas uma: a obra é genial.

Diferente do que possa-se imaginar, Fitzgerald desenvolve o tema da futilidade e vácuo interior com uma maestria surpreendente. Os personagens de "O Grande Gatsby" são extremamente vazios, mas não no sentido que usei ao falar dos personagens de "O Castelo nos Pirineus", mas no sentido de que são magnificamente vazios, ou brilhantemente construídos vazios, sem nem uma marca de estereotipação exagerada. Não há exagero de descrissões dos personagens, mas a partir de suas ações podemos ver seus traços comportamenteis, e todos os personagens são surpreendentes e bem escritos. O estilo de Fitzgerald lembra (em alguns momentos apenas) o de Clarice Lispector, com a diferença que a ultima trabalha com reflexões internas e a surpresa com o quotidiano, enquanto aquele se foca no vazio do quotidiano e a falta da reflexão (direta). Em ambos os escritores, de qualquer modo, o não dito e não acontecido se faz mais forte do que o dito e vivenciado.
Alerta!!! Esse texto pode conter spoilers como o fato de que Gatsby enriqueceu de formas ilícitas e quando morre ninguem se preocupa com ele. Ou que a amisade entre Tom e Rick se evanesce.
A história é tensa, apesar de toda a sua loentidão. Por lentidão, entenda-se uma história onde a tensão ocorre mais pelos estados de espírito e reflexões do que pelos acontecimentos em si (e, pensando bem, os 3 livros desse mês são narrativas lentas, o que me mostra como tenho preferencia por esse tipo de narrativa). A narrativa nos dá a cada instante, um sentimento de desconforto. Parece que estamos vendo um mundo alienígena, que é nosso próprio. Há momentos na narrativa que são bem mais ágeis, principalmente após o (re)encontro de Gatsby com Daisy. Essa agilidade vai até a morte de Gatsby, quando a narrativa retoma seu ar mórbido e vagaroso, porém ainda assim tenso.

O narrador do livro é Rick, que é visinho de Gatsby. Conhece Tom e seu círculo de amizade, e posteriormente, entra em contato com Gatsby. Gatsby é um cara rico, esquisito e extravagante, que tem uma paixão antiga e sem sentido por Daisy (esposa de Tom e amiga de Rick). A riquesa de Gatsby vem de negócios ilegais.


Há no livro muitos pontos positivos, mas não quero estragar a surpresa da leitura (embora já tenha feito um spoiler desgraçado da maior parte dos fatos que demoram para serem descobertos). "O Grande Gatsby" em tudo o que lhe falta proporciona a um leitor diversas emoções: interesse, compaixão, incompreensão, revolta e etc... Seu desfecho trágico e suas temáticas do amor (tratado de formas diferentes, todas incomuns) e do relacionamento social são excelentes atrativos para uma leitura divertida e descompromissada, enquanto sua densidade artística são perfeitas para uma análise ou leitura mais aprofundada.

Quanto à produção editorial, meu exemplar da Abril é um livro bem comum, com bom acabamento. A revisão foi bem feita e a tradução parece ótima (está em bom vernáculo). Não me dei ao trabalho de ler a versão em inglês do livro (minha preguiça e vontade de ler outros livros não permitiu), mas não acho nem que isso seja nescessário, pois, a edição é traduzida por ninguem menos que Brenno Silveira. Para quem não sabe, Brenno Silveira é um nome respeitadíssimo na tradução em vernáculo, além de ter escrito um dos primeiros livros sobre tradução no brasil (A Arte de Traduzir). É considerado uma grande referência na arte tradutória. Como esse post faz parte do Desafio Literário, para conferir a minha lista do desafio clique aqui. Para conferir a lista de Janeiro Clique aqui.

Nota do Elaphar: 9,2

Edição Lida:
FITZGERALD, F. Scott. O Grande Gatsby. Tradução de Brenno Silveira. São Paulo: Abril Cultural, 1980.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Vladmir Nabokov – Lolita

Prosseguindo os bônus do mês de Janeiro, apresento-lhes Lolita, que não é Infanto-Juvenil (por isso é um livro bônus, e não titular), mas aborda uma temática muito polêmica para a literatura da época: A sexualidade infantil.

Para quem não conhece, Nabokov é um escritor russo, que abandonou seu país em 1919. Nabokov escrevia principalmente romances e contos, mas também desenvolveu trabalhos de tradução, poesia e biografia. Embora escrevesse geralmente em russo, Lolita foi escrito em língua inglesa.

Acho difícil alguém nunca ter ouvido falar em Lolita, por vários fatores: 1º Existem vários filmes sobre o livro; 2º Popularizaram-se os termos “Lolita” e “ninfeta” na cultura popular, remetendo a questões sexuais; 3º Existe a “versão brasileira” dessa história (Presença de Anita); 4º Lolita é um dos maiores clássicos da literatura universal.

Lolita é um dos livros mais polêmicos da literatura, sendo que, em seu lançamento (primeiro na França e posteriormente nos Estados Unidos) uns o consideravam o melhor livro do ano e outros o definiam como pornografia absurda. Lolita conta a história de Humbert Humbert (mais de 40 anos) e Dolores Haze (13 anos). A narrativa é uma tensa história de obsessão e destruição, escrita com humor, ironia e densidade.
A narrativa começa com um monólogo sobre Lolita “Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama” (p.11). O narrador encontra-se na cadeia, e o livro é a história/explicação do crime. Segundo o universo fictício, o personagem-narrador enviou o livro a um editor e morreu pouco tempo depois (embora provavelmente fosse condenado à cadeira elétrica). Após o monólogo de abertura, Humbert prossegue a narrativa explicando alguns pontos de sua vida, como sua infância comum e seu primeiro amor (Annabel), que segundo o narrador, pode ser a causa de seu problema.

Seguem-se a isso, algumas reflexões sobre as menininhas de poder nínfico, que o escritor batiza de “ninfetas” (para quem não sabe, Nabokov cunhou esse termo). Nesse momento percebemos de forma mais  clara como Humbert é um maníaco de tendências pedófilas.
Quero agora expor uma idéia (sic). Entre os limites de idade de nove e catorze anos, virgens há que revelam a certos viajadores enfeitiçados, bastante mais velhos que elas, sua verdadeira natureza – que não é humana, mas nínfica (isto é, diabólica). A essas criaturas singulares proponho dar o nome de ‘ninfetas’. [...] Será que todas as meninas entre esse limite de idade são ninfetas? Claro que não. Se assim fosse, nós que conhecemos o mapa do tesouro, que somos os viajantes solitários, os ninfoleptos, teríamos há (sic) muito enlouquecido. Tampouco a beleza serve como critério; e a vulgaridade, ou pelo menos aquilo que determinados grupos sociais entendem como tal, não é necessariamente incompatível com certas características misteriosas, a graça natural, o charme imponderável, volúvel, insidioso e perturbador que distingue a ninfeta das meninas de sua idade [...] (p.18)
Depois disso, descobrimos mais algumas coisas sobre o senhor Humbert. Ele é um maníaco profissional, tendo freqüentado vários hospícios; faz de tudo para ficar próximo de menininhas; casa-se com uma neurótica (Valéria) e depois se separa. Acontecem algumas outras coisas pequenas, como um relacionamento com uma prostituta francesa (Monique) que provavelmente era menor de idade (embora tenha dito que possuía Dix-huit). Até essa parte, o livro possui um estilo proto-reflexivo e meio galhofeiro. Porém a escrita vai ficando mais tensa a partir do momento em que Humbert conhece a senhorita Haze e sua filha (Dolores, ou Lolita). Humbert se aproxima da menina e a senhorita Haze se apaixona por ele. A obsessão de Humbert é imensa, e ele escreve um minidiário.
Quinta-feira. [...] Durante todo o tempo eu tinha a aguda consciência da proximidade de L. e, enquanto falava e gesticulava na misericordiosa obscuridade, valia-me daqueles gestos invisíveis para tocar sua mão, seu ombro e a pequena bailarina de lã e gaze que ela brincava e que, fazendo piruetas no ar, seguidamente aterrissava no meu colo; por fim, quando já tinha envolvido totalmente minha ardente amiguinha naquela teia de carícias etéreas, atrevi-me a roçar os dedos pela lanugem arrepiada de sua perna nua, e ri de minhas próprias piadas, e tremi, e ocultei meus tremores, e uma ou duas vezes meus lábios velozes puderam sentir o calor de seus cabelos [...] (p.47)
Se você chegou até aqui, provavelmente está com os neurônios explodindo. Muitos pensamentos são incitados pelo narrador, e as descrições são riquíssimas e incômodas em algumas partes, e seus raciocínios sempre são muito racionais.

Muita coisa aconteceu após (e vou tentar acelerar, pois essa resenha já está muito longa e eu ainda estou no início do livro), Haze manda a filha estudar em um colégio interno extremamente longe e manda uma carta de amor para o Sr Humbert, que o deixa frustrado, mas após pensar um pouco (com Lolita na cabeça), decide casar-se. Possui as esperanças de dopar a mãe e a filha e manter relações sexuais com Lolita, e ao recorrer aos dotes de sua mulher, imagina que é Lolita. Um detalhe importante: Haze mãe odeia Haze filha, o que Humbert percebe tardiamente, e a Sra. Haze decide mandar Lolita para mais longe ainda e permanentemente. Algumas passagens do texto durante esse período de casamento são curiosas também, como essa:
A besteira [enquete de uma revista vagabunda] cobria vários anos e a mãezinha devia preencher um tipo de inventário a cada aniversário de seu rebento. No décimo segundo de Lô, no dia 1º de janeiro de 1947, Charlotte Haze, née Becker, havia sublinhado os seguintes dez adjetivos entre os quarenta disponíveis sob a rubrica ‘A personalidade de seu filho’: Agitada, agressiva, argumentadora, desatenta, desconfiada, impaciente, inquisitiva, irritadiça, negativista (sublinhado duas vezes) e teimosa. Havia ignorado os trinta outros adjetivos, dentre os quais constavam alegre, ativa, cooperativa e assim por diante. [...] Com uma brutalidade que, em outras ocasiões, nunca transparecia no temperamento suave de minha amorosa esposa, ela atacava e enxotava os pequenos pertences de Lô [...]. Mal sabia a boa senhora que certa manhã, [...] eu a traí com uma das soquetes de Lolita. (p.83)
Humbert planeja então o assassinato de sua mulher, mas não consegue realizá-lo, pois ainda não é um assassino. Como o destino é uma coisa miserável, a Sra. Haze acha o diário de Humbert e fica horrorizada com o que lê, foge dele e acaba morrendo atropelada. Após o enterro, Humbert corre ao encontro de sua amada, tira-a do colégio sem informar a morte da mãe e ruma para um hospital inexistente, hospedando-se antes em um motel chamado “Caçadores Encantados”, onde pretende dopá-la.

Por azar (de Humbert), o remédio que levara era falso, e acabou não tendo sucesso em dopar Lolita, mas para sua sorte, a própria menina possui a iniciativa, e por questão de travessura resolve “brincar” com Humbert, o que aprendeu no acampamento. Vou omitir aqui alguns detalhes para não ser desagradável. Aí começa a viagem de ambos pelos quatro cantos dos EUA, e acaba a primeira parte do livro.

Na segunda parte, o romance muda completamente de direção, de estilo e de tom. A narração vai ficando cada vez mais melancólica e obsessiva. Muita coisa acontece nessa parte, mas não vou me ater à maior parte dos acontecimentos. Um ponto que pode vir a ser negativo na leitura (não para mim) é o excesso de frases em francês no livro, e essas frases são ainda mais frequentes na segunda parte.

Depois de muito viajar, Humbert decide parar e se estabelecer em um lugar fixo, e escolhe Beardsley. Matricula sua Lô em uma escola local (que possui uma filosofia educacional bizarra (p.180) e uma prática tradicional), e a única pessoa que possui contato regular com ambos é no profº Gaston. Nesse momento a obsessão atinge pontos mais críticos, e Dolores é privada de muitas coisas no ambiente escolar, incluindo a prática teatral, mas depois de uma conversa com a diretora, Humbert acaba permitindo o teatro.
‘[...] por que o senhor se opõe tão fortemente a que ela [Dolores] tenha todos os divertimentos naturais de uma menina normal.’
‘A senhora se refere a diversões sexuais?’, perguntei em tom jovial [...].
‘[...] Sob os auspícios da escola Beardsley, o teatro, as danças e outras atividades naturais não podem ser consideradas, do ponto de vista técnico, como diversões sexuais, embora as meninas se encontrem com meninos, se é a isso que o senhor objeta.’
‘Muito bem [...] A senhora ganhou. Ela pode participar de tal peça. Desde que os papéis masculinos sejam desempenhados por meninas.’ (p.199-200)
Esse fragmento mostra um pouco da obsessão de Humbert. Nesse tempo há uma passagem interessante, que resolvi botar abaixo para dar uma descontraída antes de chegar às partes mais tensas da obra. De qualquer forma, é uma passagem importante (metafórica), embora isolada não pareça.
Como o leitor pode imaginar, naquela altura minhas faculdades se encontravam gravemente comprometidas e, um ou dois lances depois, quando era a vez de Gaston jogar, reparei, através do nevoeiro de minha angústia, que ele podia tomar minha rainha; ele reparou também, mas, pensando que podia se tratar de uma armadilha de seu ardiloso adversário, deteve-se por um bom minuto, bufando e resfolegando, e sacudiu as bochechas, e até me lançou alguns olhares furtivos, e mais uma vez avançou hesitantemente os dedos rechonchudos em forma de penca, recuando em seguida – doido para pegar aquela suculenta rainha e não ousando fazê-lo –, até que  de repente arremeteu contra ela (quem sabe isso não o terá estimulado a cometer outras audácias posteriores?), e tive de gastar uma hora de esforços enfadonhos para conseguir um empate. Ele virou o resto do conhaque e finalmente saiu com aquele seu passo arrastado, muito satisfeito com o resultado (mon pauvre ami, je ne vous ai jamais revu et quoiqu’il y ait bien peu de chance que vous voyiez mon livre, permettez-moi de vous dire que jê vous serre la main bien cordialement, et que toutes mês fillettes vous saluent).
Como já está quase na hora do meu rango, vou acelerar mais um pouco a narrativa (evitando também tirar a graça da leitura). Lolita desiste da peça, e Humbert e Lolita fogem da cidade com medo de serem pegos, mas são perseguidos. Nesse momento, Dolores fica cada vez mais evasiva e estranha, enquanto Humbert cada vez mais neurótico. Lolita foge de Humbert com quem estava seguindo eles. (Acho que acelerei demais, mas já foi)

A narrativa entra em outro patamar: a perseguição. Humbert passa anos buscando Lolita sem a encontrar, e nesse meio tempo casa-se com Rita, uma mulher com o cérebro do tamanho de uma azeitona (segundo o próprio autor: “Comparadas a ela [Rita], Valechka era um Schlegel e Charlotte um Hegel” (p.262)). Rita sabe das intenções de Humbert e aprova-as. O “heroi” pega a arma do primeiro marido da Sra. Haze (pai de Lolita) e espera matar com ela o homem que tirou sua Lolita. Rita é uma personagem hilária e se mete em algumas confusões (como sugerir jogar roleta-russa com uma semi-automática, quase atirando em Humbert). Apesar de sua estupidez, Rita não é só hilária, como também é profunda e melancólica. Teve vários maridos e sempre foi abandonada, e sabe que será por Humbert, o que a deixa triste. Humbert encontra pistas de Lolita, abandonando Rita em seguida, e a encontra.

Humbert conversa com Lolita, e descobre que está casada e vivendo com outro jovem, que não mata porque não era o mesmo que roubou Lolita. Descobre o nome do seqüestrador (Quilty) e tenta, sem sucesso, convencer Dolores a voltar a viver como antigamente. Parte rumo à casa de Quilty, e assassina-o, não sem antes uma cena dramática. O livro termina com algumas reflexões do narrador.

Minha resenha pode ter parecido um pouco grande, mas não chega perto de mostrar os vários acontecimentos e características do livro. A obra em si é muito densa, rica e prazerosa de ler. Lolita não é só um clássico, mas um dos melhores livros que já li, embora tardiamente. Todas as bibliotecas de todas as casas deveriam possuir um exemplar de Lolita, e todas as pessoas deveriam ler esse livro. Essa é uma obra que provoca, incita, causa mal estar, mas da qual não conseguimos parar de ler. É uma pena não poder falar muito da tradução pois, minha preguiça intelectual não me permitiu ler o original inglês, entretanto, Jorio Dauster escreveu esse livro em um português excelente, o que me faz acreditar que é uma excelente tradução. Com louvor, ganha a nota mais alta que já dei nesse blog.

Esse livro é bônus do DL, e foi feito em decorrência do tema de Janeiro. Clique aqui para ver a página de Janeiro.

Nota do Elaphar: 10

Edição Lida:
NABOKOV, Vladmir. Lolita. Trad: Jorio Dauster. Rio de Janeiro: O Globo; São Paulo: Folha de São Paulo, 2003, 319p. (Biblioteca O GLOBO, Vol.1). © da tradução: Companhia das Letras.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Jostein Gaarder - O Castelo Nos Pirineus

Primeiro devo agradecer ao meu grande amigo Dênis de Brito por me emprestar esse livro. Agora mãos a obra. Prosseguindo o Desafio Literário e avançando em faixa etária. Se Memórias do Quintal foi escrito para crianças entre seus 7 a 13 anos, O Castelo nos Pirineus foi escrito para jovens entre os 13-18 anos que possuem sérios problemas para viver em sociedade, afinal, se você tem essa idade e passa o seu dia inteiro lendo um livro que discute ciência e religião das 3 uma: ou você não tem amigos, ou não tem nada melhor para fazer, ou é NERD. Eu pelo menos leria pelos 3 motivos.

Brincadeiras a parte, a primeira alfinetada ao livro vai quanto à tradução. PELO AMOR DE DEUS COMPANHIA DAS LETRAS, não estamos mais em 1800 onde não havia tradutores de várias línguas e eramos obrigados a traduzir de outras versões, mas em pleno ano de 2010 traduzir por meio de uma tradução em Alemão? Qual o motivo disso? Por um acaso procurou-se economizar? (para quem não sabe, um tradutor de Norueguês cobra mais caro que um de Alemão) Depois dessa, a Companhia perdeu uns dois pontos comigo.

O outro ponto que devemos nos acostumar no livro é em relação aos nomes noruegueses, que são complicadíssimos. Nossa leitura se baseia em uma memória sonora (sempre que lemos, relacionamos o texto escrito com o som), e é muito difícil lembrar dos acontecimentos e lugares se não se sabe a pronúncia. Qual o problema com os nomes? Veja uns exemplos e julgue: Nesøy, Flåm, Hjønnevåg, Rysjedalsvika, Tyrifjord, Drammensvassdraget, Hønefoss, Hemsendalsfjell e etc... Só o que sei é que "j" tem som de "i" como semivogal. Claro, com o tempo você se acostuma.

Não posso ficar aqui só falando dos problemas! Devo falar de algumas coisas bem legais do livro, como por exemplo as paisagens são bem descritas e são muito interessantes (embora possuam nomes horríveis). A ambientação da narrativa se passa na maior parte do tempo na Noruega, mas em alguns momentos o livro nos remete a áreas de outros países (como Estocolmo na Suécia). Há muitas ilhas, montanhas e fiordes no livro, que me faz ter uma sensação agradável, pelo espaço ser múito tópico.

A narrativa é simples e muito repetitiva. A forma de narração é mais interessante que a própria história. O livro é contado na forma dos e-mais trocados entre os personagens principais: Steinn e Solrun. Ambos possuem ideias antagônicas ao tratar dos assuntos e acontecimentos, enquanto ficam trocando correspondência. Por conta disso, há pouco rigor estilístico na construção do romance (afinal, os e-mais usam a linguagem casual), além de tornar o texto cansativo em alguns momentos, devido as digressões e repetições infindáveis. Os acontecimentos são contados em ordem caótica, e é uma pena que esse escritor não soube usar esse estilo de forma agradável.

Como é tradicional de Jostein Gaarder, o livro segue o mesmo padrão dos anteriores, de estabelecer discussões filosóficas, teológicas e ciêntíficas, de forma que agrade e chame a atenção dos leitores jovens. Porém, nunca o autor foi tão infeliz em seu objetivo quanto em "O Castelo nos Pirineus". Em "O Mundo de Sofia", "O Dia do Curinga" e "Maya" por exemplo, o escritor consegue chamar bastante atenção do leitor para os assuntos extranarrativos que surgem, enquanto nesse livro essas discussões cansam e atrapalham a narrativa, além de não possuir (como nos outros livros) a variedade de assuntos e motivos.

Outra infelicidade de Jostein Gaarder foi em relação aos personagens. Não há mais o cômico curinga ou o jovem Hans Thomas de "O Dia do Curinga", ao mesmo  tempo que não há o misterioso filósofo que manda cartas para Sofia; ao contrário, os personagens de "O Castelo nos Pirineus" são extremamente esteriotipados e vazios. Steinn e Solrun são duas frutas ocas, que não têm poupa, e nem mesmo suas cascas têm sabor. Os dois piores personagens já criados por Gaarder são protagonistas desse livro.
Alerta!!! Esse texto pode conter spoilers como o fato de que Solrun morre ao final ou que toda a discussão e reencontro dos personagens pode não ter servido para nada. Agora que você já sabe disso, pode continuar lendo o texto sem preocupações.
Chegando no plano da narrativa, há pelo menos um ponto de grande interesse. O desfecho. Nas últimas páginas do livro, conta-se definitivamente o acontecimento "surpreendente" relacionado com a "Mulher Amora". Embora o acontecimento é extremamente previsível e a narrativa não gera interesse nenhum para esse final (gera talvez curiosidade, mas interesse de fato...). Mais importante que o acontecimento em si, são as duas reflexões finais sobre todo o acontecimento. Essas reflexões são a base do livro, e se você começar a ler o livro por elas não vai perder nada, o que me faz pensar que esse livro seria melhor como conto ou novela curta, pois só possui temanho de romance devido ao excesso de coisas inúteis no livro. A partir daí acontece uma pequena mudança nos personagens e nos fatos, e quando você pensa que vai melhorar, o livro acaba com a morte de Solrun, que pode deixar 8 de cada 10 leitores revoltados. Isso é excelente, pois, se há revolta, é a prova de como o loivro é bom, afinal, muito melhor que a letargia que 75% do livro causa nos leitores. Por fim, as ultimas palavras de Solrun colocam em cheque a utilidade de toda essa discussão do livro.

Por fim, gostaria de afirmar que esse livro não é o que eu pensava que seria, pois superestimei a habilidade do escritor. Recomendo a leitura descompromissada, mas há uma série de livros mais interessantes que esse. Aparentemente, o livro foi traduzido e/ou escrito às pressas, pois a primeira edição (2010) contém uma série de erros de pontuação e alguns erros de concordância (se não me engano, encontrei também 2 erros de ortografia), mas provavelmente essas deficiências vão ser sanadas em edições posteriores. O maior vilão desse livro entretanto é ele mesmo.

Só por questão de curiosidade, o nome do livro é baseado em uma pintura de um artista da Bélgica. O quadro chama-se Le Chateau des Pyrénées e é esse que segue abaixo:
E quanto a minha avaliação de hoje, talvez tenha pegado um pouco pesado, mas meu humor não está muito bom hoje, afinal, não é todos os dias que um ônibus me arrasta meio quarteirão no asfalto. Como esse post faz parte do Desafio Literário, para conferir a minha lista do desafio clique aqui. Para conferir a lista de Janeiro Clique aqui.

Como meu exemplar de "O Guia dos Mochileiros da Galáxia" foi extraviado e não achei em nenhuma outra livraria, minha lista vai mudar um pouquinho, e Fitzgerald (livro Bônus) vai assumir essa posição (afinal, para isso servem os bônus), enquanto o "Guia" Vai para ficção científica.

Nota do Elaphar: 7,8

Edição Lida:
GAARDER, Jostein. O Castelo nos Pirineus. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Uma Mente Brilhante (A Beautiful Mind)

Essa é minha primeira resenha de um filme, mas como o filme é muito bom, merece estar aqui. Essa resenha foi minha primeira avaliação de Psicolinguística, porém posto-a aqui reduzida e adaptada.
Alerta!!! Esse texto pode conter spoilers como o fato de que John Nash é meio pirado e tem amigos imaginários, e ganha o Prêmio de Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel. Agora que você já sabe disso, pode continuar lendo o texto sem preocupações.
O filme "Uma Mente Brilhante" (A Beautiful Mind) conta a história do matemático e economista John Nash, que buscava uma ideia inovadora, útil e original para sua tese de Doutorado. Por conta de sua árdua tarefa, John acaba criando uma fuga que se manifesta na forma de uma esquizofrenia.

Nash conclui sua tese, casa-se, ganha uma equipe de trabalho (não necessariamente nessa ordem) e sua insanidade aumenta, agora na forma de outra personagem irreal: o "Big Brother". Nash acredita que é um agente, e sua doença vai se agravando cada vez mais, levando-o até um hospital psiquiátrico. Após o tratamento, Nash se recusa a tomar seus remédios e a doença retorna, até o momento em que o protagonista cai em si e percebe o que está havendo, que o faz iniciar uma recuperação gradual por meio do convívio social (que ele odiava no início do filme), culminando em seu retorno como professor, sua ovação como gênio e sua distinção no prêmio de economia em homenagem a Alfred Nobel (erroneamente conhecido e traduzido como Nobel de Economia. Não existe nenhum Nobel de matemática ou economia).

Há nesse filme muitos pontos interessantes para a análise, dentre eles a íntima relação que há entre a sociedade e a mente humana. Por ser afastado do convívio social (na verdade, ele se isola por conta própria) e exercer forte pressão psicológica sobre si próprio, acabou desenvolvendo uma insanidade degenerativa grave, que só pode ser superada e ignorada pelo convívio que antigamente evitava.

O outro ponto importante é relacionado à busca humana em gravar seu nome na história, tornando-se imortal, divino e exemplar. Nash possuia uma ânsia por essa busca, e isso contribuiu também para seu estado mental.

Articulando os dois pontos importantes citados, percebemos ainda mais claramente como se dá sua loucura e sua recuperação. Das duas principais "ilusões" de Nash, uma representa sua deficiência social e a nescessidade de superá-la (seu amigo de quarto), enquanto a outra, representa seu desejo desenfreado de gravar seu nome na história do país (o "Big Brother"). Essas "ilusões" so conseguiram ser tratadas após Nash se dar conta de suas deficiências e de buscar superá-las. Apenas a partir disso, John pode ignorar seus fantasmas.

Há muitos outros pontos excelêntes para análise, mas vou ficando por aqui, pois se existe uma arte em que sou ignorante, essa arte é o cinema. Não vou me alongar mais,. só reafirmo que é um excelente filme e que merece ser visto novamente, em outras momentos.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Sonetos de Shakespeare: Faça você mesmo

Sou muito fã dos sonetos de Shakespeare e suas traduções para o português, e não é a toa que em dezembro resenhei a belíssima tradução de Péricles Eugênio. Estava planejando resenhar agora a tradução de Jorge Wanderley ou Ivo Barroso, mas ao achar esse livro na Saraiva não resisti, e cá estou eu aqui resenhado esse livro agora, pois, me surpreendeu deveras.

A primeira grande observação a respeito desse livro é quanto aos tradutores. É extremamente instigante ver uma das obras de maior peso da poesia mundial sendo traduzida por não tradutores. Claro, podemos ver discretamente o nome de Ivo Barroso que é um grande tradutor, Beatriz Viégas-Faria que é uma autoridade tradutória de Shakespeare, e Jorge Furtado que já possuiu uma experiência tradutória com Alice pela Objetiva. A maior parte do elenco de tradutores se compõe de atores e humoristas como Clarice Falcão, Pedro Furtado, Wagner Moura, Lázaro Ramos e Fernanda Torres.

O objetivo do livro é simples: incentivar que as pessoas experimentem traduzir os sonetos de Shakespeare. O livro começa com uma engraçada introdução de Jorge Furtado intitulada "Por que o soneto é mais interessante que o sudoku". Em seguida vem todas as intruções de como compor um soneto. A produção gráfica interna do livro não é a oitava maravilha do mundo, mas também não chega a ser péssima. Aparentemente esse livro foi lançado às pressas.

Agora o que interessa realmente... as traduções!

O fato de serfeita por vários tradutores, faz com que não haja um "padrão" lexical ou de estilo. Em uma tradução pode aparecer "Não veja o mundo e zombe desta dor/ Por minha causa, quando morto eu for" (Soneto 71 por Ivo Barroso), no mesmo soneto traduzido por outra pessoa aparece "E que o mundo não vigie o choro teu/ Te sacaneará. E eu já morri. Fudeu." (por Wagner Moura). Entre os sonetos vemos diferenças gritantes de estilos, sendo que alguns não rimam, ou rimam apenas metade.Há uma tradução que nem é um soneto (nº 19 por Fernanda e Mariana Veríssimo).

Apesar da diferença entre estilo e qualidade entre um tradutor e outro, o livro presta bem a sua função e de fato nos dá vontade de usar a outra página (com as devidas guias) e compor nossa própria tradução. Prometo que em breve apresento uma tradução aí. A seleção dos sonetos também é, a meu ver, melhor do que a feita por Péricles Eugênio, pois conta alguns de meus preferidos, mas isso é muito pessoal.

Por fim, vai um destaque super especial para o soneto de número 66 traduzido por Jorge Furtado. Jorge Furtado fez duas traduções para esse soneto, e a primeira é provavelmente (na minha opinião) a melhor versão desse soneto em português (superando a versão do Péricles e do Wanderley por exemplo), e a segunda tradução a menos ortodoxa. Como bônus vai as duas traduções mais a tradução de Péricles Eugênio para comparação (já que seu livro já foi resenhado). Por favor, por tradução "menos ortodoxa" entende-se um lexico que pode ser ofensivo, e se você tiver problemas com esse tipo de palavras, melhor pular a segunda tradução. Não diga que eu não avisei. Novamente, não mando o "original" para vocês verem a tradução de poesia como uma criação.

Farto de tudo, clamo a paz da morte
Ao ver quem de valor penar em vida
E os mais inúteis com riqueza e sorte
E a fé mais pura triste ao ser traída
E altas honras a quem vale nada
E a virtude virginal prostituída
E a plena perfeição caluniada
E a força, vacilante, enfraquecida
E o déspota calar a voz da arte
E o néscio, feito um sébio, decidindo
E o todo, simples, tido como parte
E o bom a mau patrão servindo
    Farto de tudo, penso, parto sem dor
    Mas se partir, deixo só o meu amor
                      (Soneto nº 66 por Jorge Furtado, p.82)
De saco cheio, mando tudo às picas
Ao ver só gente boa se ferrando
E as mais escrotas rindo à toa, ricas
E as crentes, puras, só no cú levando
E prêmios dados a um monte de bostas
E virgens puras pagando boquetes
E a perfeição xingada pelas costas
E os fortões entubando croquetes
E a cultura virar supositório
E a chusma de imbecis cagando regras
O bom e simples tido por simplório
O mal triunfa e o bem toma nas pregas
    De saco cheio, vão todos se fuder!
    Só o que eu não posso é meu amor perder
                      (Soneto nº 66 por Jorge Furtado, p.83)
Farto de tudo, imploro a morte sossegada
Quando vejo o valor vestido como um pobre
E com luxo trajado o miserável nada,
E perjurada, por desgraça, a fé mais nobre,
E vergonhosamente a honra mal situada,
E a virginal virtude em lama prostituída,
E por coxo exercício a força invalidada,
E a justa perfeição do apreço decaída,
E julgando a perícia a doutoral tolice,
E atando a língua da arte o arbítrio oficial,
E a mais simples verdade achada parvoíce,
E o bem seguindo preso o comandante mal:
    Farto, eu queria estar já morto e descansado,
    Se não deixasse o meu amor abandonado.
                      (Soneto nº 66 por Péricles Eugênio)

Nota do Elaphar: 8,4

Edição Lida:
SHAKESPEARE, William. Sonetos de Shakespeare: Faça você mesmo. Trad: Vários Tradutores. Organização de Jorge Furtado e Liziane Kugland. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O Pequeno Príncipe - Antoine de Saint-Exupéry

O Pequeno Principe é maior clássico da literatura escrita para crianças. Por conta do "Clássico", muitas pessoas se privarão de ler esse livro (pré)julgando-o chato, afinal, todos conhecemos a antipatia que a grande maioria das pessoas possui de textos ditos "Clássicos" ou "Canônicos". Mas diferente do que se possa pensar, O Pequeno Principe difere muito do que a maioria das pessoas pensam sobre textos clássicos, mas tem uma característica basilar que mantém esse livro nas estantes da criançada e dos adultos até o dia de hoje, que e justamente o que Ítalo Calvino considera como a característica mais importante dos textos clássicos: "um clássico é um livro que nunca acaba de dizer o que tem para dizer" (CALVINO, Por que ler os Clássicos).

Encerrando a discussão sobre clássicos e cânones (que já deve estar ficando chata a beça), o primeiro ponto que chama atenção é a sua linguagem (ou a linguagem da tradução, já que não faço a mínima ideia de como é a linguagem no francês), que é muito simples e "bonitinha". Percebe-se que a maior preocupação do autor (ou do tradutor, como eu disse anteriormente) é em falar, de fato, com as crianças que lêem a obra, porém, bem mais que isso, consegue usar uma linguagem que pode agradar (e agrada) os jovens e adultos.

A história é simplíssima, mas sua profundidade é algo que também deve ser discutido. Há no livro toda uma formulação pedagógico/filosófica sobre a amizade, sua importância e seus efeitos. Talvez as partes que falam sobre amizade sejam as mais recitadas do livro, mas não vou colocar nenhum trecho da obra pelo motivo que vocês verão mais a frente quando eu falar da produção.

Outro ponto de destaque é a composição fragmentada da obra, sendo que cada tema é muito bem trabalhado isoladamente e de forma cumulativa, onde após um tema ser trabalhado, passa-se para outro que tem como pré-requisito o(s) anterior(es). Para compor esse "mosaico" temático, Antoine cria um sistema de episódios interessante, que começa com o planeta natal do pequeno príncipe, e passa para uma série de viagens e descobertas em outros pequenos planetas até chegar no planeta terra. Cada episódio uma nova descoberta, uma nova reflexão e uma reformulação das descobertas e reflexões anteriores. As novas experiências também são importantes para o pequeno principe no sentido de que ele passa a conhecer melhor seus próprios sentimentos.

Por fim, vem o desfecho "trágico", que, por ser incomum ao universo infantil, acaba sendo bastante chocante e emocionante para a maioria dos leitores. Entretanto, esse desfecho "trágico" (notem as aspas) possui sua importância. Só quem leu a obra pode compreender a beleza desse episódio que praticamente encerra o livro.

Lembrem-se: por ser um grande "Clássico", a leitura de "O Pequeno Príncipe" é inesgotável, e não pretendo (nem possuo a pretensão) de esgotar, com apenas uma leitura, esse livro maravilhoso. Optei na minha resenha destacar alguns pontos da composição das ideias nesse livro, mas há diversas (e melhores) leituras espalhadas por aí. Recomendo a leitura desse livro até para quem não é apaixonado por ler, afinal, além de bom e simples ainda é um livro curto.

Um ponto que gostaria falar também é quanto a produção editorial. Meu exemplar é da coleção dos "Menores Livros do Mundo", que é uma simpática coleção de livros de aproximadamente uma polegada e meia. Apesar do tamanho, o livro é totalmente legível (bom tamanho de fonte) e ilustrado (ilustrações originais do autor), além de possuir um acabamento e marcador super simpáticos. O problema (muito grave) é que o livro não possui folha de rosto, e, não há nenhuma informação sobre a edição ou tradução do livro, e por esse motivo não citei o livro em nenhum momento na resenha, nem coloquei suas referências ao final como de costume.

Esse é meu primeiro Bônus do DL, e foi feito em decorrência do tema de Janeiro. Clique aqui para ver a página de Janeiro. E para quem não sabe falar o nome do escritor, é mais ou menos assim: Ãtwán (a não nasalizado)de Séntêgzypêrri (sendo "y" o som entre "u" e "i" e o "rr" bem forte). IPA: [ɑ̃twan də sɛ̃tɛɡzypeˈʁi]

Nota do Elaphar: 9,1

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Memórias do Quintal - Alfredo Garcia

Demorei mas comecei postei meu primeiro livro do desafio literário. O motivo por eu postar o reserva antes do titular é por conta de que esse livro é ums excelente amostra de literatura infanto-juvenil nacional.

Para quem não conhece (creio que uma grande maioria dos que leem esse post), Alfredo Garcia é umescritor paraense nascido na cidade de Bragança (meu conterrâneo), que escreve poesia desde jovem mas se destacou de forma muito especial no conto, gênero esse que lhe rendeu muitos prêmios e publicações. Possui vários livros publicados como O Homem pelo Avesso, Meninos & Meninos, Pé-de-vento (esgotados), O Livro deEros (Adulto), Epifanias (o mais recente) e, é claro, esse livro que resenho agora. É um dos poucos escritores que possuem um talento singular ao escrever para crianças e adultos.

O primeiro ponto interessante (na verdadeo último, mas não importa) é a entrevista de Alfredo ao fim do livro (presente apenas na 2ª edição revista), e uma das partes mais interessantes é essa:
É mais fácil escrever para crianças?
- Costumo dizer que não há uma literatura infantil e uma literatura para adultos. Há literatura ou Literatura, dependendo,claro, da qualidade. Nós temos essa rotulagem que a sociedade capitalista e a própria industria cultural impingem-nos. Eu acho o leitor menor mais difícil, porque é um leitor exigente (...) que concebe a literatura como algo mágico, lúdico, ao contrário do leitor adulto, que deseja que o autor escreva atendendo aos anseios do seu dia-a-dia, que fale de seu cotidiano. (...) O lúdico atrai o leitor, não fórmulas gastas (...).
Indo para os contos propriamente ditos, percebemos um tom nostálgico e memorialista, que, não sei se agrada as crianças, mas dá a nós (seres saudosistas) a impressão de regredir violentamente no tempo, para um tempo despreocupado mesmo em suas micro-tragédias e micro-epopeias. Tudo isso é encontrado sobretudo no primeiro conto ("Era um Menino que Apontava Estrelas").

"Era um Menino que Apontava Estrelas" é, dentre todos os contos do livro, o mais memorialista e nostálgico. Acredito que ele deu o título ao livro (pois o menino apontava para as estrelas de seu quintal, e relembra pela memória). A história é de uma criança que viveu o período da ditadura militar e do avanço dos ideais do comunismo e do conflito religioso (maçonariaXcatolicismo), e que seu pai pertencia a ambos os grupos geradores dessa tensão e a criança procura entender as ideologias do pai, o que só mais tarde consegue de forma satisfatória. Mesmo esse fundo profundo, o conto é bem "simpático"de ler e, não obstante a linguagem ser bem trabalhada, não chega nem perto de ser hermético.

O segundo conto ("O Dia da Morte de Agileu, o Conspícuo") nãochega a ser tão profundo quanto ao primeiro, mas possui uma agitação maior, o que favorece bastante o prazer da leitura. Ao invés da nostalgia e o drama reflexivo anterior, entra em cena o pesado drama de impacto e a comicidade das coisas infantis (não nessa ordem). A curiosidade (principalmente presente na fase infantil) está posta de forma interessante na obra, além dos vários tipos de comportamento presentes no universo infantil, tanto antigo como mais moderno (ou pelo menos das cidades ribeirinhas, e se você não é de uma, teve a infância mais chata do planeta).

Em seguida vem o conto "O Dia do Herói" é um conto muito interessante sobre o heroísmo, tema que, de forma beeem diferente é sutilmente tratado no conto seguinte: "Perna deMoça". "Perna de Moça" é uma história cômica das brigas presentes nessa faixa etária, e dentre os contos do livro é o que mais diverte e o que mais se aproxima do universo infantil moderno brasileiro urbano e semi-urbano. Alfredo mostra toda a sua técnica narrativa ao tratar um tema que requer cuidados redobrados com a linguagem.

"O Dia do Herói" e "Perna de Moça" são os contos mais lúdicos do livro, em contrapartida, os dois contos que seguem ("Primícias" e "Passarinhar"), na minha análise, não deveriam fazer parte desse livro, mas sim de outro. Os contos não são ruins, não é isso, mas não considero adequados estarem em um livro (em tese) "para crianças". Diferente do que acontece em "Perna de Moça", em "Primícias" a uma aparente despreocupação com a linguagem, ao ponto que todo o conto está coberto de "motivos" sexuais que podem até escapar em uma primeira leitura, mas ao ler com cuidado percebemos claramente. Quanto a "Passarinhar", o conto é excelente, mas acredito que sua letargia agrada muito a um crítico literário, mas irrita profundamente uma criança, porém, posso estar errado, pois não penso como criança a muitos anos.

Por fim, o ultimo conto (Pirulim) é um caso a parte no livro, e acho que é agrada qualquer pessoa (criança, jovem ou adulto) que gosta do gênero conto. Como bônus, deixo o trecho final desse conto:
O pai chama o menino com a autoridade dos adultos e o menino, mesmo não querendo ainda ir, acompanha o pai. Antes de sair lança um último olhar aohomem que bebe o chope bem devagar e mastiga o pedaço de queijo, também sem pressa (...). E o que ele nunca mais vai esquecer na vida é aquele olhar de desespero e de abandono do homem sentado na mesa, bebendo o chope, comendo o queijo. O homem que ele conheceu como o palhaço Pirulim e que ele vê agora apenas como uma pessoa, uma pessoa sem graça.
Se definirmos a literatura infanto-juvenil como uma literatura que prepara e forma o leitor, e podemos afirmar que Alice de Carroll e os contos dos Bruder Grimm preparam o leitor para uma literatura mais ágil, podemos dizer também que Alfredo Garcia e seu Memórias do Quintal preparam o leitor para apreciar uma obra mais lenta e/ou memorialística; aprender a ter prazer nesse tipo de leitura.

Como eu estou de bom humor hoje, nãovou falar das questões materiais do livro. Não que a capa, as folhas e a diagramação possuem problemas, mas as orelhas e 4ª capa........... Esse livro pode ser comprado direto na editora Paka-Tatu ou pela Estante Virtual. Para conferir a minha lista do desafio clique aqui.

Nota do Elaphar: 8,4

Edição Lida:
GARCIA, Alfredo. Memórias do Quintal. 2ª Ed. Revisada e Ampliada. Belém: Paka-Tatu, 2001, 84p.

Seguindo a progressão etária (criança, pré-adolescência e adolescência), o próximo livro vai ser o titular, mas primeiro... um post especial sobre o Pequeno Príncipe.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Desafio Literário 2011 - Janeiro: Literatura Infanto-juvenil

"No mês das férias, vamos nos divertir com a criançada e aproveitar o tempo junto da família com muita leitura! Que tal escolher algumas obras destinadas às crianças e aos adolescentes para o Desafio Literário 2011? No site da Revista Crescer há uma variedade de sugestões, considerando as faixas etárias de 1 a 10 anos."

Todos os meses do DL2011vou postar alguma coisa a respeito do tema, além de resenhar alguns livros que não constam na minha lista original. E o primeiro mês é de Literatura Infanto-Juvenil.

Em primeiro lugar, a literatura Infanto-Juvenil não é uma literatura escrita EXCLUSIVAMENTE para jovens ou crianças, mas um texto que esses grupos de leitores tendem a identificar-se. Outro ponto importante é que nem sempre é muito claro o que é infantil e o que não é, pois, "Alice no País das Maravilhas" (por exemplo) possui uma complexidade impressionante, e um clássico como "O Barão nas Árvores" possui em certos momentos uma graciosidade infantil nas palavras. Alguns livros como "O Senhor dos Anéis" foi nitidamente escrito para adultos, mas possui uma temática que muitos jovens gostam (embora a dificuldade de ler um livro dessa densidade).

Outra questão vem a ser o que o escritor diz como escrito para crianças ou jovens, como é o caso de "Stories and Poems for Extremely Intelligent Children of All Ages" de Harold Bloom (Lançado em português em 4 volumes pela Objetiva), que são textos clássicos comuns onde o organizador (no caso: Bloom) define como texto "adequado" para crianças extremamente inteligentes. O oposto disso vem a ser as famosas estórias dos Brüder Grimm (Jacob und Wilhelm), que foram um trabalho de compilação de narrativas orais populares, que acabaram sendo conhecidas como estórias infantis. O mesmo ocorre com Koch Grümberg e Câmara Cascudo na Amazônia. No decorrer da história, essas compilações tornaram-se infantis.

E por fim, obras "para adultos" adaptadas para o público infantil (como por exemplo a adaptação de As Viagens de Guliver feita por Clarice) ou Jovem (Como Orgulho e Preconceito e Zumbis de um mané aí que não lembro o nome). Há quem recrimina plenamente esse tipo de texto, e não sou um dos maiores fãs desse tipo de "tradução". Por via de regra, não usei nenhuma obra desse tipo na minha lista do desafio.

Eis aqui minha lista nesse mês e os livros que pretendo resenhar sobre o tema da juventude e infancia. Após resenhados, terão os Links aqui:

LISTA
Titular: O Castelo nos Pirineus - Joostein Gaarder (vou pegar emprestado de meu amigo Denis).
1º Reserva: Memórias do Quintal (Contos) - Alfredo Garcia.
2º Reserva: O Guia dos Mochileiros da Galáxia (GMG V.1) - Douglas Adams.
2º Reserva: O Grande Gatsby - F. Scott Fitzgerald

BÔNUS
O Pequeno Príncipe - Antoine de Saint-Exupéry
Lolita - Vladimir Nabokov
O Grande Gatsby - F. Scott Fitzgerald


Curiosidade: Existe o Prêmio Hans Christian Andersen que é considerado um Nobel da Literatura Infanto-Juvenil, dada por uma empresa filiada a UNESCO. Duas brasileiras já ganharam o premio em 1982 (Lygia Bojunga) e 2000 (Ana Maria Machado). Além dessas, Katherine Paterson (1998) e J.K. Rowling (2010) ganharam o prêmio. O site oficial está disponível aqui.

sábado, 1 de janeiro de 2011

1º de Janeiro - Dia do Domínio Público

Primeiro gostaria de explicar meu sumiço: Folga.

O dia 1º de Janeiro não é só o primeiro dia do ano, mas um dos dias mais importantes para a cultura universal. Todo dia primeiro de Janeiro milhões e milhões de obras perdem os direitos e passam a ser patrimônio cultural de todos. Ano passado simplesmente Sigmund Freud e Yeats entraram em domínio público nos Estados Unidos e no Brasil.

De forma simples, todo escritor morto a 70 anos (ou seja 1940) entrou em domínio público hoje e toda obra escrita antes de 1923 também está em domínio público.

Esse ano, as duas grandes celebridades em domínio público são: o pintor suiço/alemão Paul Klee o filósofo alemão Walter Benjamin e o escritor americano Fitzgerald (que escreveu "O Curioso Caso de Benjamin Burton" e "O Grande Gatsby").

Outras personalidades que entraram em Domínio Público foram: Maurice Renard (escritor francês de histórias fantásticas), Amílcar de Sousa (médico português, pioneiro no vegetarianismo), Maude Abbott (Médica canadense), Antonio de Hoyos y Vinent (Escritor espanhol da escola decadentista), Emma Goldman (anarquista russa), Mikhail Bulgákov (escritor e dramaturgo russo que teve dois livros publicados ano passado pela EDUSP em 2009-2010), Selma Lagerlöf (escritora sueca, primeira mulher ganhadora doNobel de Literatura em 1909. Link2) e muitos outros.

Destaque também para vários escritores com uma crítica favorável e que estão inéditos em língua portuguesa como Anton Hansen que é considerado um dos maiores expoentes da literatura estoniana, ou Francis William Bain escritor de histórias fantásticas ou Edward Frederic Benson que escreveu centenas de histórias. Talvez a entrada desses escritores em domínio público incentive as editoras brasileiras a traduzirem e publicarem obras desses escritores.

Não, tirando Fitzgerald e Benjamin não conheço a obra de nenhum desses escritores, mas pretendo conhecê-los no decorrer do ano, se o Projeto Gutenberg me ajudar.

Aguardo 2012, quando Joyce aumentará o acervo do domínio público.
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